28 de dezembro de 2008

A fenda do biquíni

Poucas coisas no mundo são tão odiosas quanto comprar biquíni.

EU ODEIO COMPRAR BIQUÍNI!

Eu odeio porque eu odeio biquíni pequeno. Odeio estampas horrorosas. Odeio biquíni sem estampa. Odeio lacinhos do lado. Odeio porque eu uso cada parte do biquíni de um tamanho. Odeio porque a gente sempre fica gorda de biquíni. Odeio pagar uma fortuna numa peça de roupa de 30 cm.

Eu queria viver no começo de século, assim eu poderia ir à praia de roupa e não seria ridículo. Ou então, acho que eu queria ser homem pra poder ir à praia de bermudão sem parecer cafona ou tiazona.

Mas, por mais que odeie, todo ano é assim. O verão chega e se eu quiser usufruir do sol, piscina e mar, tenho que me aventurar nas lojas que vendem biquíni.

E se tem uma coisa pior que comprar biquíni, são as vendedoras que vendem biquíni. Elas são um SACO. Mal-humoradas ou desanimadas, não importa: odeio todas elas. Hoje, estava em uma loja repleta de biquínis, com biquíni até o teto. Pedi um biquíni preto. Não tinha. Pedi um biquíni franzido do lado. Não tinha. Pedi um biquíni com bojo. Não tinha. Não tinha &*%@# nenhuma! E aqueles 321.235.203 milhões de biquínis na minha frente, eram o quê, ilusão de ótica?!

Aliás, as más vendedoras estão se procriando pelo mundo. Estão em todas as lojas de todos os lugares. Eu imagino que passar o dia todo em pé, aguentando gente chata e metida, não deve ser muito agradável. Não deve ser muito legal ser vendedora, mas ou você procura outra coisa pra fazer da vida ou tenta ser a melhor vendedora que você pode ser. Porque, quanto melhor vendedora você for, mais vai vender, quanto mais você vende, mais você ganha... e dinheiro no bolso sempre dá uma melhorada na vida.

Lá estava eu, no shopping lotado, um calor infernal, odiando todas as vendedoras e todos os biquínis do mundo, quando entrei em uma dessas lojas grandes, de rede. No provador da loja, estava trabalhando uma moça deficiente (devia ter algum tipo de deficiência mental). Ela falava "bom dia" para todas as pessoas que entravam e falava "obrigado" para todas pessoas que saíam e devolviam as roupas no cabide. Ouvir "bom dia" e "obrigado" não é coisa fácil dentro de uma loja e essas palavras fizeram dela a melhor vendedora do dia.

Eu imagino que não deve ser nada fácil ser deficiente em um mundo como o nosso, onde só a perfeição é valorizada, onde ter o nariz meio grande ou um peito pequeno já é motivo para revolta, depressão e até mesmo suicídio. Quem tem algum tipo de deficiência, vive num mundo repleto de preconceito e exclusão. A sociedade o faz pensar que ele nasceu predestinado ao fracasso e a reclusão. Inserir-se igualmente na sociedade, é o sonho e, espero, o futuro de todo deficiente. Talvez, por isso, aquela moça trabalhava dando seu melhor.

27 de dezembro de 2008

Poesia 2




De vez em quando Deus me tira a poesia.

Olho pedra e vejo pedra mesmo.




Adélia Prado. Poesia Reunida, p.199

22 de dezembro de 2008

Conheça - Ana Miranda

Ana Miranda é tão boa historiadora, quanto escritora. E vice-e-versa. Suas obras são, em grande maioria, históricas e recheadas de acontecimentos reais que trazem ainda mais vida aos seus livros. Li dois de seus livros, Desmundo (que já virou filme) e Boca do Inferno, ambos retratam o país da época de 1500/1600.

Desmundo conta a história de jovens órfãs portuguesas que foram traduzidas para o Brasil, no início do período de colonização, com um objetivo nada agradável: casar-ser com os homens (sujos e truculentos) que aqui moravam e povoar a nova terra.

Boca do Inferno conta a história do poeta Gregório de Mattos e de Padre Antônio Vieira. Entre realidade e ficção, a escritora ainda conseguiu inserir uma história policial instigante, repleta de tirania e corrupção.

Os dois livros valem à pena serem lidos, especialmente por aqueles que gostam de saber mais sobre a História do nosso país.

Abaixo, vocês podem encontrar algumas informações sobre Ana Miranda, retiradas de sites.

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Ana Miranda nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1951, e mudou-se para o Rio de Janeiro aos cinco anos de idade. Em 1959, foi para Brasília, onde o pai, engenheiro, trabalhava na construção da cidade. De volta para o Rio de Janeiro, deu continuidade aos seus estudos.

É uma escritora profissional: fez parte de várias antologias, faz artigos para jornais ou revistas; trabalha com roteiros para cinema. Colaboradora, desde 1998, com a revista Caros amigos, e, desde agosto de 2004, escreve crônicas no Correio Braziliense.

Foi escritora visitante na Universidade de Stanford em 1996, e fez palestras e leituras nas Universidades de Berkeley, Yale, Darthmouth, de Roma, dentre outras. Em 1999 e 2003, Ana Miranda representou o Brasil na União Latina, em Roma e em Paris.


PUBLICAÇÕES

- Anjos e Demônios (Poesia, 1979)
- Celebrações do Outro (Poesia, 1983)
- Boca do Inferno (Romance, 1989) - Foi publicado em diversos países, tais como França, Inglaterra, Itália, Estados Unidos, Argentina, Noruega, Espanha, Suécia, Dinamarca, Holanda, Alemanha. Vencedor do Prêmio Jabuti, em 1990.
- O Retrato do Rei (Romance, 1991)
- Sem pecado (Romance, 1993)
- A Última Quimera (Romance, 1993)
- Desmundo (Romance, 1996)
- Amrik (Romance, 1997
- Dias & Dias (Romance, 2002)
- Que seja em segredo (Poesia, 1998)
- Clarice (Novela, 1999) – Inspirada na vida de Clarice Lispector
- Noturnos (Contos, 1999)
- Cadernos de sonhos (contos, 2000)
- Dias e dias (Romance, 2002) – Vencedor do Prêmio Jabuti 2003 e Prêmio da Academia Brasileira de Letras
- Deus dará (Crônicas, 2003)
- Flor do Cerrado (Infanto-Juvenil, 2004)
- Prece a uma aldeia perdida (Poesia,2004)

Mais informações: pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Miranda
www.anamirandaliteratura.hpgvip.com.br


17 de dezembro de 2008

Um mundo sem brigadeiro


Hoje eu me lembrei de um fato que aconteceu há uns dois anos e me chocou. Me chocou muito!

Durante um ano, minha família decidiu fazer uma atividade voluntária em um orfanato. Na verdade não era bem um orfanato, era mais um abrigo, lá estavam crianças que foram retiradas temporariamente de suas casas por causa de maus tratos, alcoolismo dos pais, coisas do tipo. Todo mês nós fazíamos festa de aniversário para as crianças. A gente decorava um salão, levava lanche, bolo, refri e presente para os aniversariantes do mês. A gente também levava brigadeiro. E foi então que eu ouvi algo que até pode parecer banal, mas mexeu comigo, com todo mundo.

Um menino virou para mim, apontou para um brigadeiro e perguntou "Tia o que é isso?". Eu respondi "É brigadeiro". "O que é brigadeiro?"

COMO ASSIM?!

Como é possível uma criança não saber o que é um brigadeiro?! É um negócio simples, que a gente sempre come em casa e em festa de criança. Toda criança sabe o que é um brigadeiro!

Mas ele não sabia.

Quão feliz pode ser uma criança que vem de um mundo sem brigadeiro?!

16 de dezembro de 2008

Porque esse osso eu não largo

Lembro que na minha colação de grau, um dos meus amigos me disse: “É a primeira vez que vou em uma colação e não acho chato, entediante, não quero ir embora. Aliás, acho até que teria ficado mais, pelo menos mais uma hora. Como é bom ouvir gente que sabe o que fala”.

Ele era um estudante de Física da mesma universidade, então não estava apenas vislumbrado. Ele apenas notou algo que eu mesma notei, quando fui sábado à colação de grau dos formados de Letras e Lingüística, turmas de 2005: quando você sabe e gosta do que faz, faz muito bem!

Não há nada mais entediante que discurso de professor em colação. Não há nada mais bonito que discurso de professor estudioso de linguagem e literatura em colação. Quem entende de linguagem, sabe usá-la da maneira mais produtiva, atraente e bonita possível. Quem entende de linguagem, transforma tédio em poesia.

Às vezes, como em uma cena de filme, me vejo indo a todas as colações de lá. Todos os anos, mesmo quando já não conheça mais ninguém, nenhum formando, irei a todas elas. Mesmo que muito tempo se passe, irei a todas elas. Mesmo depois de velha, irei a todas elas... se houver a garantia de que ouvirei discursos como os de sábado.

Foi então que percebi que é isso que me prende aquele lugar. Foi por isso que, não contente em fazer um curso de graduação, ingressei em outro. É por isso que ano que vem, antes mesmo de terminar o segundo curso, me inscreverei em outro.

Aquele lugar exala sabedoria. Conhecimento. Reflexão. Palavras. Foi depois daqueles discursos que assumi que não consigo viver longe disso. Porque depois de 6 anos de estudo, tudo isso também já faz parte de mim. Tudo isso me move. Tudo isso me agarra e me impede de ir embora.

Como um outro amigo me disse... esse osso, eu não largo não!

9 de dezembro de 2008

Capitu na TV


Hoje estréia, na Globo, a minissérie CAPITU, adaptada do livro Dom Casmurro de Machado de Assis. Serão, ao todo, 5 capítulos.


Eu adoro o livro e acho que vou adorar a minissérie. Pelas propagandas e pelas fotos que vi no site, a adaptação é parecida com Hoje é Dia de Maria, que eu adorei! Parece ter o mesmo ar mágico e fantasioso.

Como eu digo, não existe nada que seja de todo ruim. A Globo, como quase todas as outras emissoras de TV gratuitas, é uma droga. As programações são péssimas, com novelas ridículas e sem noção, programas de auditório idiotas e humilhantes, filmes repetidos pelas milésina vez... Mas, uma coisa não se pode negar: as minisséries da Globo são, em geral, muito boas! Eu acompanhei algumas delas e foram todas muito bem feitas, com boas histórias, bom elenco e um enredo interessante.

Quem vai fazer a Capitu, mais uma vez, é a Maria Fernanda Cândido. Ela não me agrada muito como atriz, mas se Machado estivesse vivo e pudesse escolher sua própria Capitu, com certeza, seria ela! A descrição da personagem casa perfeitamente com as características da atriz.

A emissora também montou o Projeto Mil Camurros, que funciona assim: quem quiser, escolhe um trecho de Dom Casmurro, grava e manda pra eles. No site, você pode ouvir as leituras simultâneas. Embora tudo isso tenha sido feito com o intuito de divulgar a minissérie, achei a idéia ótima! É uma maneira nova e interessante de levar literatura às pessoas.

Mais informações, no site http://capitu.globo.com

7 de dezembro de 2008

Eu não sei gramática

Sempre que uma pessoa descobre que sou formada em Letras, pronto, acabou minha paz!

As pessoas adoram me encher de perguntas sobre ponto, vírgula, crase, funções do que, sinônimos, figuras de linguagem, acento, conjunções, significado de palavras. Quando eu digo que não sei, me olham com cara de como-assim-sua-burra-você-estudou-quatro-anos-pra-quê?

Eu não sou uma gramática ambulante, muito menos um dicionário completo da Língua Portuguesa, graças à Deus! Quando eu soube que não teria aulas de gramática na faculdade, pulei de alegria. Na verdade, fiz uma ou duas disciplinas sobre gramática, nas quais nós passávamos o tempo todo criticando a gramática, os livros de gramática, a maneira como a gramática é ensinada na escola…

Não, eu não sei gramática! Até hoje, não sei direito quando usar ponto-e-vírgula. Também não sei usar crase, sempre faço o teste de substituir o a craseado por ao e a palavra seguinte, por um substantivo masculino, se der certo, ok, sorte minha. Já esqueci, faz tempo, o que é um Oração Coordenada Sei-lá-o-que. Às vezes, também não sei se uso que, qual, o qual, no qual, a qual, para o qual. Minha orientadora também já me disse que meu vocabulário de conjunções é restrito.

E, sabe uma coisa, nem ligo muito para isso. É claro que eu sempre me esforço para aprender algumas regrinhas, afinal, agregar conhecimento é sempre bom! Mas não faço questão de saber uma gramática de cor, de trás para frente. De nada adianta saber gramática e não ter nada na cabeça.

Saber uma língua é muito mais do que saber colocar o acento no lugar certo.

E foi isso que aprendi nesses 4 anos de estudo, e continuo aprendendo. O mais importante é saber como a linguagem funciona e, assim, usá-la à seu favor. Pois é através dela que expressamos nossas opiniões, sentimentos, idéias, ideais, ideologiais. É através dela que transmitimos nosso conhecimento, que recebemos conhecimento, que argumentamos, revidamos, nos protegemos, nos comunicamos. Se você conhece sua língua bem o suficiente para fazer tudo isso, pode ter certeza que não é uma simples crase que vai estragar tudo.

Aliás, acreditar que uma pessoa que fala/escreve errado não tem nada a dizer, é puro preconceito… Mas isso, é assunto para um outro post ;)

30 de novembro de 2008

Essa pessoa dava um livro

Minha vó fez 73 anos na quarta-feira passada. Passei os últimos 3 dias na casa dela. Eu amo a minha vó e admiro muito a pessoa que ela é. Eu já devo ter ouvido umas mil vezes todas as milhares de histórias de vida que ela tem pra contar. Não são poucas, mas não me canso de ouvi-lás.

Ela se casou aos 22 anos e ficou viúva aos 30. O marido dela morreu de repente, até hoje ninguém sabe ao certo a causa da sua morte. O que todo mundo sabe é que ele teve hemorragia interna, no estômago, e teve que ser enterrado às pressas, antes que o sangue começasse a sair por todos oríficios do seu corpo.

E assim, sem esperar, deixou minha vó e os cincos filhos, em Osasco. A vida deles tinha sido boa até então, mas depois da morte do meu vô, as coisas pioraram muito. Minha vó era uma quase analfabeta e teve que arrumar dois empregos para sustentar os filhos: o mais velho tinha 7 anos e o mais novo, somente alguns meses.

Todo dia, ela saía de casa rezando para que os filhos estivessem bem quando ela voltasse. Eles ficavam sozinhos e dependiam da ajuda de alguns poucos bons vizinhos. Aliás, eles dependiam dos outros para muita coisa. O dinheiro que a minha vó ganhava mal dava para comprar comida, todo resto era ganhado. Móveis, roupas, brinquedos, utensílios domésticos.

Moravam em uma casa de dois cômodos, com uma cama de casal e uma de solteiro, um sofá todo destruído e um banheiro do lado de fora, que minha vó mesma teve que construir quando o banheiro original despencou.

Como se não bastasse a situação em que se encontravam, ainda tinham que suportar gozações na escola, na vizinhança, na família. Era difícil ver a pobreza ser motivo de piada e aguentar as previsões dos familiares, que só faltavam fazer apostas para adivinhar qual dos filhos tornaria-se um marginal.

Superar a pobreza parece algo impossível em uma país como nosso. Nossa sociedade foi estruturada para manter os pobres no lugar onde estão: abaixo de todo o resto da população. Até hoje ninguém consegue entender como minha vó, com seus 5 filhos, conseguiu romper com tudo isso.

Há uns 5 anos, duas pessoas que ajudaram muito a minha vó nesse período (eles tinham um mercado, empregaram alguns dos filhos dela e sempre davam o que podia para eles) vieram visitá-la. Chegaram no endereço que minha tia tinha passado e ficaram em dúvida em qual casa chamariam: na casa simples, de quintal desarrumado, precisando de reforma ou na casa ao lado, grande, nova e com carro na garagem.

Chamaram na primeira. Nós ouvimos chamarem o nome da minha vó e fomos ver quem era. Quando a minha família saiu no portão da outra casa, a mulher começou a chorar. E não parava mais. Foi só depois de algum tempo que ela conseguiu falar.

“Nem nos meus melhores sonhos eu conseguiria imaginar uma mudança tão grande. Vocês parecem um milagre.”

Eu concordo. A minha vó é um grande milagre de 1,45m de altura.


26 de novembro de 2008

Conheça - Adriana Lisboa


"O amor é um milhão de pequenas coisas"

Adriana Lisboa é uma escritora jovem e muito talentosa. A sua escrita é doce, poética, encantadora. Li Um Beijo de Colombina quase de uma sentada só e, quando faltavam apenas umas páginas para terminar de lê-lo, o livro simplesmente sumiu. O encontrei meses depois, espremido entre um dicionário e uma enciclopédia, na estante da sala. Ainda me lembrava da história.

Um Beijo de Colombina teve como inspiração poemas de Manuel Bandeira. As características e sentimentos de cada poema (há uma lista com os poemas inspiradores no final do livro) estão perfeitamente integrados a história da jovem escritora Tereza que, em meio à angústia e ao amor, tenta escrever seu próximo livro. Quando o inesperado acontece, ele – que nem mesmo sabe se é namorado, marido ou amante de Tereza – decide continuar o livro por ela.

Abaixo, vocês podem encontrar algumas informações sobre Adriana Lisboa, retiradas do site da escritora, e um trecho do livro. O site também traz alguns contos e artigos já publicados.

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A escritora brasileira Adriana Lisboa nasceu em 25 de abril de 1970 no Rio de Janeiro, onde passou a maior parte da vida. Morou na França e vive hoje entre o Rio e a cidade de Boulder, Colorado, nos Estados Unidos. Estudou música e literatura, foi cantora, flautista e professora. Hoje, além de ficcionista, é também tradutora e às vezes poeta.

Recebeu o Prêmio José Saramago, em Portugal, e, no Brasil, o prêmio de autor revelação da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e o prêmio Moinho Santista (atual Fundação Bunge)

PUBLICAÇÕES
Os Fios da memória (romance, 1999)
Sinfonia em branco (romance, 2001) - vencedor do Prêmio José Saramago
Um beijo de Colombina (romance, 2003)
Caligrafias (minicontos, 2004)
Língua de Trapos (infantil, 2005)
Rakushisha (romance, 2007) - Tese de doutorado escrita como ficção
O coração às vezes pára de bater (novela juvenil, 2007)
Contos populares japoneses (infanto-juvenil, 2008)
Além de participação em livros de contos

“Não, nunca tive qualquer ambição literária.
O que eu começava a escrever como se fosse ela nem precisava ser bom.
Nem precisava ser publicado. Ninguém leria.
Era só para dar forma àquela sensação de andar por ruas líquidas
e respirar um ar pastoso e dormir noites ocas,
era só para saber o que fazer com o céu quando ele crescia,
se avolumava e perigava cair sobre minha cabeça
como uma samambaia que despencasse da varanda.
Eu tinha três personagens em minhas mãos, pierrô, colombina, arlequim
(quatro: não devia me esquecer de pierrete),
e mais o Estrela da vida inteira,
e mais marulhos da praia em Mangaratiba,
bordão, ostinato, dentro de meus ouvidos.
Quem sabe, tinha também vontade de gritar a plenos pulmões.”

Mais informações: www.adrianalisboa.com.br

Ps: Moacir Sclyar já estava na minha lista ;)

24 de novembro de 2008

Literatura Contemporânea

Brasileiro tem mania de reclamar. E a coisa não muda quando o assunto é literatura. Todo mundo vive reclamando que livro brasileiro é chato e antiquado e que os escritores bons já estão todos mortos. O que é uma tremenda mentira.

Eu acredito que uma das causas da falta - ou ausência total - de leitura entre os brasileiros é a crença ridícula de que os alunos precisam ler os clássicos na escola. Por causa dela, os professores entopem seus alunos de 6ª séries com livros consagrados, sim, mas que são difíceis de ler e não fazem o menor sentido para eles. Eu adoro Machado de Assis, mas obrigar um adolescente de 12 anos a lê-lo é tortura, das piores.

A prática da leitura deve começar aos poucos e de leve. Eu passei muitos anos lendo livrinhos juvenis bobos e acredito que foram esses livros que fizeram de mim uma leitora voraz. Só fui ler clássicos da literatura quando estava no Ensino Médio e isso não me fez pior do que aqueles que leram Grande Sertão: Veredas na 5ª série.

Machado de Assis éreconhecido como um dos maiores escritores do Brasil porque tinha um talento incrível para retratar, em palavras, a sociedade de sua época. E é isso que nos falta: precisamos ler escritores que retratem nossa época, que falem sobre coisas que vemos nas ruas, vivemos em casa e sentimos todos os dias.

Mas onde esses escritores estão?!

Eu fiz um dos melhores cursos de Letras do país e acho que, durante os 4 anos de estudo, não li um único livro de literatura contemporânea. Foi, então, que resolvi ir atrás dela sozinha. Aos poucos, venho descobrindo escritores atuais - que ainda estão vivos! - e excelentes livros que retratam um mundo que podemos ver pela janela da nossa casa.

Como acho muito injusto que eles permaneçam escondidos, vou tentar - e espero conseguir - escrever textos semanais sobre cada um deles e, quem sabe, despertar o interesse de novos leitores.

Ainda essa semana apresento a vocês Adriana Lisboa.

18 de novembro de 2008

Os 80 blogs que você não pode perder

Para você, que adora blogs como eu, a notícia-capa da Época traz uma lista com 80 blogs, de temáticas variadas. Há blogs de jornalistas e economistas, mas há tambem aqueles escritos por pessoas comuns. Vale a pena dar uma lida.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI17282-15204,00-OS+BLOGS+QUE+VOCE+NAO+PODE+PERDER.html

16 de novembro de 2008

Por que nunca acontece o contrário?

Ela morava numa cidade não muito grande, não muito pequena, muito parecida com muitas das cidades que existiam por aí. Naquela cidade, e com certeza em muitas outras, contavam-se histórias sobre o passado, sobre como as coisas eram, como tinham mudado e como tudo era melhor agora. Ela gostava de ouvi-las, especialmente aquelas sobre o caminho que levou à igualdade entre mulheres e homens.

Contavam que, há muito tempo atrás, as mulheres não estudavam, não trabalhavam, não votavam, não escolhiam seus maridos, sequer saíam de casa, exceto em dias de festas, quando as bonitas e ricas eram exibidas por seus maridos. Enquanto isso, os homens podiam fazer tudo. Tudo por causa daquilo que, hoje, chamamos de machismo. Ninguém sabe ao certo de onde o machismo veio e porque começou, talvez tenha sido inventado pelos homens num acesso de orgulho ao saberem que Deus os criara primeiro.

Felizmente, há não muito tempo atrás, as mulheres finalmente assumiram sua inconformidade diante da situação e depois de muito protesto, reivindicações, luta e trabalho, tudo mudou. Diziam que, agora, as mulheres não eram mais subestimadas, maltratadas nem humilhadas, pois havia total igualdade entre elas e homens. O machismo havia acabado. E todos acreditavam nisso.

Ela acreditava, porém com alguma dúvida. Foi, então, que aquilo começou a acontecer.

Na TV, ouviu a história de uma mulher que era casada, tinha dois filhos e parecia feliz. Dois dias antes, seus vizinhos ouviram gritos terríveis. Mas não fizeram nada. “Ela deve estar vendo algum filme de terror, algo assim”. Naquele dia, sentiram falta dela, que sempre levava as crianças ao parque no sábado de manhã. Resolveram ir até sua casa. Chamaram, chamaram e ninguém atendeu. Alguém pulou o muro e viu o corpo pela janela da cozinha. Ela estava deitada no chão e tinha uma poça de sangue à sua volta. Já começava a cheirar mal. A cabeça estava funda do lado direito. Tinha sido morta a pauladas pelo marido, dois dias antes. As crianças tinham desaparecido, junto com ele

Aquilo chocou a cidade. Ficaram todos aterrorizados com um crime tão cruel, só falava-se nisso em todos os lugares. As pessoas choravam ao pensar no seu sofrimento. Mas, passaram-se algumas semanas, o crime foi esquecido e tudo voltou a ser como antes.

Mas, aconteceu de novo. Dessa vez, ela estava na fila do supermercado quando chegaram contando uma história parecida. Era uma jovem bonita, tinham acabado de se casar. O marido a amava muito, mas era muito ciumento. Enfiou na cabeça que a mulher tinha um caso com o diretor da escola da esquina. Quando ela chegou em casa, na noite anterior, ele a recebeu com 28 facadas.

Novamente, a cidade foi tomada pelo terror. Chocados, ninguém conseguia acreditar como alguém podia ser capaz de cometer crime tão cruel. Ela era tão jovem, tinha uma vida inteira pela frente. Mas, passaram-se apenas alguns dias, o crime foi esquecido e tudo voltou a ser como antes.

“Por que as mulheres são mortas pelos homens, mas nunca acontece o contrário?”, ela perguntou à avó. “Não sei. Talvez, tenha que ser assim”.

E, assim como antes, aconteceu de novo. Era sua vizinha, tinha apenas 18 anos. Ela e o namorado, que também morava por ali desde criança, estavam juntos há alguns anos. Mas ela não o amava mais. Ele não cogitava a possibilidade de perdê-la. Quando ela decidiu terminar o namoro, levou um tiro certeiro do rapaz.

Uma vez mais, a cidade se chocou, ficou aterrorizada, todos choraram e lamentaram. Mas, dessa vez, o crime foi esquecido no dia seguinte, quando um novo caso aconteceu. Era apenas uma menina, que foi surpreendida na saída da escola. Teve a vida interrompida aos 10 anos de idade, pelo fio da tomada da TV. Seu corpo foi achado em um saco de lixo, na beira da estrada

As coisas tornaram-se cada vez piores. A cada dia um novo caso. A cada hora, uma mulher morta. Enforcadas, espancadas, esfaqueadas, despedaçadas. A história se repetia incessantemente, os assassinatos se tornaram parte do cotidiano da cidade e, aos poucos, ninguém mais se importava com eles. Não passavam mais no noticiário noturno, nem saíam no jornal da manhã. Ninguém os comentava na fila do supermercado.

Aos poucos, as mulheres foram sumindo. Era cada vez mais difícil encontrar uma. Não estavam em lugar algum. Elas começaram a desaparecer, se extinguiram. Finalmente, o machismo havia acabado. Não há machismo se não há mulheres.

15 de novembro de 2008

Um caderno que vale a pena


Esses dias, meio sem querer, entrei em um blog chamado Caderno de Saramago. Na hora, estava com pressa e o post mais recente era muito grande. Não li. Saí do blog.

Eis que essa semana, quando recebi minha revista, descubro que o Caderno de Saramago é o blog do próprio Saramago. Fiquei impressionada com o fato de um escritor tão renomado ter um blog. Mais impressionada ainda, fiquei quando soube que o escritor renomado já tem seus 86 anos.

O blog, claro, vale a pena ser lido.

Tudo bem que, assim como todos nós, Saramago tem seus defeitos, como o seu passado de comunista ortodoxo. Mas, um Nobel da Literatura merece um desconto.


Leia o Caderno (com atualizações quase diárias) aqui:


Para ler a reportagem sobre Saramago, clique aqui:

14 de novembro de 2008

E é cada um por si...

Ao longo das faculdades (digo faculdades porque estou fazendo meu segundo curso de graduação), ouvi muitos, muitos professores lamentarem seu destino. Estudar literatura não leva à lugar nenhum. Ser linguísta não dá dinheiro. Não temos reconhecimento. É uma carreira muito difícil. E blá-blá-blá.

Apesar de tantos problemas, é incrível como eles ainda persistem na profissão. É claro que todos nós fazemos escolhas erradas na vida e muita gente não acerta, assim, de primeira. No entanto, acredito que bastam alguns anos para que você perceba que está indo pelo caminho errado e, então, tome outro rumo.

Mas esses professores não. Eles se formaram há anos, mas continuam lá, persistem na vida sacrificante. Não largam o osso de jeito nenhum.

Além disso, a vida não é tão ruim quanto eles pregam. Eu concordo que os professores da Unicamp não ganham tão bem quanto merecem, afinal são necessários incessantes anos de estudos para chegar onde eles estão. Mas a profissão não é tão ruim quanto eles dizem, o que pode ser percebido pelos seus carros, viagens, aparições em TV, jornais e revistas. Isso sem falarmos no glamour do título "professor da Unicamp".

Às vezes me dá a impressão, talvez errônea - sabe-se lá - que todas esssas reclamações não passam de um joguinho para convencer os alunos a desistirem do curso e assim... eles terão um concorrente à menos. Eles parecem ter medo de serem substituídos pelos próprios alunos e se protegem como podem.

Alguns reclamam da vida acadêmica, outros do salário. Outros fazem de tudo para tornar a vida dos alunos - e a conclusão do curso - mais difícil. E há aqueles que resumem suas aulas à um amontoados de idéias sem sentido, impossibilitando que os alunos aprendam tudo aquilo que eles sabem.

Felizmente, ainda existem muitos professores que não agem dominados por esse egoísmo imaturo e sem sentido. Professores que sabem que melhor do que manter sua vaga garantida, é tê-la roubada por uma pessoa brilhante que ele ajudou a criar.
.: Em homenagrem a todos meus professores de verdade,
por seu altruísmo e competência :.

9 de novembro de 2008

Política do pão e universidade

Estudar e trabalhar tem um lado péssimo: você fica praticamente exilada do mundo, sem saber o que está se passando por aí.

Eu saio de casa às 6h30, quando todo mundo ainda está dormindo (eu tenho, no máximo, a companhia sonolenta da minha mãe), e volto às 22h30, quando todo mundo já está dormindo, ou quase.

Praticamente não tenho tempo de ler jornal e revista, nem de ver os noticiários da TV. Consigo, no máximo, dar uma lida em algumas notícias na internet. Resultado: fico sabendo das notícias com atraso, sempre.

Semana passada, fiquei sabendo de uma notícia que me deu muita, muita raiva. Uma raiva tão grande que, se eu pudesse, eu cortava o Serra em mil pedaços e jogava no rio.

Durante a campanha do DCE (até que o DCE serve pra alguma coisa), eles falaram um pouco sobre o mais novo programa do nosso querido Governador. Ele acabou de criar a Univest (Universidade Virtual do Estado de São Paulo). Vai funcionar assim: a Unicamp, a Unesp e a USP vão oferecer cursos de licenciaturas pela internet, quase 6 mil vagas serão abertas ano que vem.

Resumindo: todo ano, mais de 6 mil professores serão formados à distância. Só me responde uma coisa, como é possível formar professores à distância? Como alguém pode se tornar professor sem, ele mesmo, ter contato com um?

O pior de tudo isso é que a população, alienada e facilmente enganada, ficou feliz com o programa incrível lançado pelo super bonzinho Serra, que proporcionará formação superior a tanta gente (inclusive achei vários sites e blogs elogiando a proposta). Ninguém sequer pensa no tipo de formação que será oferecida. Eu fiz um curso de licenciatura e sei que o contato diário com um professor é essencial para uma educação de qualidade, consistente.

Em um país como nosso, no qual a educação se deterioriza a cada dia, um projeto como esse só irá piorar ainda mais esse cenário. Se professores bem preparados já não conseguem manter um ensino de qualidade, dá medo imaginar o que vai acontecer com a educação quando esses 6 mil professores virtuais forem para a escola.

A desculpa do governo é que faltam professores nas escolas. Também faltam médicos nos hospitais públicos, mas ninguém jamais cogitará a possibilidade de uma faculdade de medicina à distância.

Claro, a medicina é uma profissão muito melhor que a pedagogia. Além disso, médicos mal preparados seriam um problema gravíssimo para o governo e sua imagem. Enquanto isso, professores com má formação fazem um grande favor a eles: formam pessoas cada vez menos conscientizadas, que se contentam com essa política de pão e circo de boca calada e sorriso no rosto.


Quer saber mais sobre o programa? Entra aqui http://www.ensinosuperior.sp.gov.br/portal.php/univesp

! 1 ANO !

Até esqueci...
dia 1º meu blog fez um ano!!!!!

25 de outubro de 2008

Poesia

Eu já li vários textos (livros, artigos, reportagens, etc) dos quais gostaria de ter sido a autora. Eu acho que muita gente já passou por isso. Você lê e pensa "Como alguém conseguiu escrever algo tão genial? ou tão bonito?".

Abaixo estão dois desses textos. O primeiro, é um trecho do artigo "A arte de dizer não dizendo", escrito po Braúlio Tavares e publicado na Revista Língua Portuguesa (ed. outubro). O segundo, é o poema "Poesia", de Carlos Drummond de Andrade, retirado do livro "Alguma poesia".

Cada um de nós tem sua maneira própria de dizer as coisas,
e também de dizer que não consegue dizê-las. Há momentos em que
a poesia é apenas um sentimento que nos toma de assalto, nos invade,
nos deixa cheios de emoções - e vazios de palavras. Talvez a gente
não consiga dizer o que sente; mas precisa dizer que não conseguiu.

Gastei uma hora pensando num verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

22 de outubro de 2008

A perna comprida da verdade


Eu semprei achei difícil contar uma mentira. Mais difícil ainda, manter uma. Sendo ela boa ou ruim, é difícil esconder de todo mundo uma verdade que anda com você, que está dentro de você. Porque é incrível o poder que a verdade escondida sob uma mentira tem de se infiltrar na sua cabeça e não sair de lá... e ficar martelando, martelando... “conte a verdade, conte pra todo mundo”.

Não é a mentira que tem perna curta, mas a verdade é que tem perna comprida. A mentira, se pudesse, se manteria para sempre. Mas a verdade... ela fica te cutucando, tentanto te convencer a botá-la pra fora.

Esses dias tenho escondido algo de quase todo mundo. Não chega a ser uma mentira, é mais uma omissão. Não pode ser uma mentira, porque não chegou aos ouvidos de ninguém. Não chega a ser uma mentira, porque nunca foi contada. É algo que simplesmente não contei para quase ninguém e que, portanto, não existe. E nem afeta a vida das outras pessoas.

E até por isso que não contei pra ninguém. Ninguém tem nada a ver com isso. Não quero que saibam. Mas, mesmo assim, essa não-mentira, essa coisa não contada, fica me martelando. Já me peguei várias vezes, quase contando, quase abrindo minha boca no meio de muita gente. Parece que essa coisa não contada quer sair e criar vida, mesmo que seja pra ser mentira.

Deve ser muito difícil contar uma mentira que precisa mesmo ser mantida. Para sempre. Penso nos criminosos inocentados. Isso não é um presente, mas uma tortura eterna. Eles precisam passar o resto da vida mantendo uma mentira, uma mentira que carrega o fardo da sua liberdade. Não há castigo pior que ter a verdade martelando na sua cabeça para o resto da vida.

5 de outubro de 2008

Uma caixa de ócio, por favor!

Eu sinto uma pena em deixar o blog assim, meio abandonado, quase sem atualizações. Porque eu gosto muito de escrever, muito mesmo. Se pudesse, escreveria aqui todos os dias, sempre tenho mil idéias na cabeça, muitas coisas pra contar. Mas estou sentido na pele as conseqüências da falta de tempo ocioso.

Durante as aulas de literatura da faculdade ouvi muitas (muitas!) vezes que o ócio é essencial na vida de um grande artista. Não que eu me considere uma artista, muito menos uma grande artista. Mas é impossível escrever sem ter tempo ocioso.

A grande maioria dos textos que aqui escrevi não saíram da minha cabeça em 5 minutos, assim, do nada. Para escrever muitos deles, passei dias pensando no assunto, escrevi, reescrevi, acrescentei uma parte, mudei o final.

É impossível fazer tudo isso quando você tem que trabalhar, estudar, fazer um trabalho de estatística, estudar francês, sair com as amigas, passar um tempo com família, ir no aniversário do fulano, visitar o sicrano. Quando vejo, já é domingo, 23h, estou morta de sono e sem um pingo de vontade de escrever. Sem sequer uma idéia na cabeça. Nem uma linha. Nem a letra inicial do próximo post.

É o tal ócio produtivo. É como se a sua criatividade aumentasse na mesma proporção que aumenta seu tempo ocioso. É por isso que grande artistas, sejam eles escritores, músicos, pintores, dançarinos; não podem trabalhar como a maioria de nós. O tempo ocioso é essencial para sua criatividade, seu talento, sua arte. Sem ócio, não há artistas.

Talvez, seja por isso que o Brasil é tão pobre de artistas de verdade. Num país como o nosso, no qual os jovens precisam trabalhar cada vez mais cedo para ajudar no sustento da família, onde praticamente não há incentivos para a cultura e patrocínio parece lenda, é muito difícil dedicar-se a arte. Pois arte exige dedicação.

Eu que não sou artista. Eu que não tenho tempo ocioso. Para escrever por aqui, precisei escolher entre escrever ou fazer o trabalho de estatística. Ainda bem que eu odeio estatística.

25 de setembro de 2008

50 letras valem mais que mil palavras



Retirado do livro "Dois Palitos", de Samir Mesquita.

São 50 microcontos, com até 50 letras, num livreto que vem dentro de uma caixinha de fósforos.

Veja mais micro-contos no site do autor http://www.samirmesquita.com.br/

10 de setembro de 2008

Clickarvore



http://www.clickarvore.com.br

Eu fiquei sabendo da existência desse site pela minha gerente.

A ideía é ótima para quem quer contribuir para a preservação do meio ambiente, mas não tem mais espaço para plantar árvore em casa ou mora em apartamento.

É bem simples. Você entra no site e se cadastra. Depois, é só clicar em PLANTAR e pronto, os patrocinadores do site e da campanha vão plantar uma árvore por você, em alguma reserva florestal do país.

Você pode plantar uma árvore por dia e também pode comprar mudas e plantar váaaarias de uma vez só.

Você ainda pode ver onde suas mudas foram plantadas no link "Veja para onde foram suas mudas". O site também informa qual foi o patrocinador que pagou sua muda.

Eu entro no site todo dia e planto minha muda.
Até agora, já foram plantadas mais de 16.260.000 árvores.

O meio-ambiente agradece!


2 de setembro de 2008

Porque tuda muda

Resolvi mudar o layout do site. Aquele rosa não dava mais, nem eu aguentava ler o meu próprio blog.

Sonhei com um blog vermelho, preto e branco e achei que tinha ficado bonito.

Sempre quis colocar uma imagem na barra do título, mas não sabia como fazer isso. Ontem, enquanto trocava o layout, vi que tinha uma ferramenta para "inserir foto na barra do título". Simples assim.

Eu adoro tulipas. São lindas, cativantes. E simples. Meu maior sonho de criança não é casar, mas quando isso acontecer, se isso acontecer, quero uma igreja repleta de tulipas. Também achei que as tulipas combinavam com o layout preto e vermelho e com valsa de Amélie Poulain.

Quando penso em mudança, me lembro do dia da minha formatura. Eu fui mestre de cerimônias (achamos que seria melhor - e mais barato - ter duas pessoas da turma fazendo esse papel) e, quem me conhece, sabe que isso seria algo impensável alguns anos antes. Eu era meio bicho do mato. Se alguém me perguntasse qual a maior mudança que aconteceu na minha vida depois (e por causa) da faculdade, eu, com certeza, diria que foi minha socialização.

Percebi esse mudança quando participei de uma viagem com o pessoal de empresas juniores da Unicamp. Íamos para um encontro nacional no Rio de Janeiro. Eu sempre quis ir para o Rio e cheguei a conclusão que não poderia perder essa oportunidade, principalmente porque a viagem seria muito barata e cheia de festas (claro!)

Fui!

Mesmo conhecendo apenas uma das mais das 50 pessoas que iriam, não éramos amigos na época e ainda ficamos em hotéis separados. Dividi quarto com pessoas que nunca tinha visto em toda a minha vida. Os quatros dias que passei lá estão na lista dos dias mais divertidos e felizes da minha vida. Foram o ínicio de uma mudança.

Depois da colação, minha tia veio falar comigo e me disse: "Não acreditei quando vi você em cima do palco. Pensei, aquela não é a Aline que eu conheço. Você realmente mudou muito, e pra melhor. A faculdade fez muito bem pra você".

Eu concordo.

27 de agosto de 2008

...


Como de costume, acordei as 6h30 e corri para fazer tudo que sempre faço de manhã. Peguei a roupa que já havia separado no dia anterior, tomei banho, me troquei e levei a bolsa e os sapatos para a sala. Comi um pão com queijo e tomei um copo bem grande de vitamina que minha mãe tinha acabado de fazer. Fui para o banheiro e arrumei o cabelo, escovei os dentes e coloquei os sapatos. 30 minutos depois, estava pronta, roupa trocada, café tomado, cabelo penteado.

Andei até o ponto de ônibus duas ruas abaixo da minha casa. Como sempre, passou um ônibus às 7H05, lotado, e eu esperei o próximo, que viria 2 minutos depois com metade dos bancos vazios.
Nesse horário era de costume pegar um pequeno engafarramento a caminho do centro, era por isso que comecei a acordar às 6H30, e não às 6h40 como fazia antes.

Como sempre, cheguei no trabalho 10 minutos antes das 8h e deu tempo de tomar um café e acordar de vez. Eu precisava adiantar algumas coisas, pois às 9h teria uma reunião.

Na hora do almoço, fomos à um restaurante que fica perto. Era sexta-feira, por isso tinha feijoada. Os outros voltaram ao trabalho logo depois de comerem.

Eu, como sempre, passei meus últimos 15 minutos de almoço caminhando pela rua arborizada do quarteirão debaixo. Era bom para espairecer e também me ajudaria a queimar um poucos das milhares de calorias que eu havia acabado de comer. Quando voltei para o trabalho, resolvi subir os 5 andares de escada, pois assim tinha um tempo a mais para respirar antes de voltar à labuta.


A tarde sempre passava voando e quando olhei para o relógio e vi que já eram 16h55, me deu aquele alívio de sempre. Na verdade, me deu um alívio duplo, pois eram apenas 5 minutos para o meu fim de semana.

Não tinha sido um dia diferente dos outros, mas, como sempre, eu queria muito voltar para casa, tomar banho, me espalhar no sofá-cama e assistir meu seriado preferido.

Eu desci as escadas, dei um tchau para o porteiro e, quando coloquei os pés na calçada, vi que meu ônibus já estava vindo. Corri para atravessar a rua. Ao olhar para o lado, eu vi uma luz e depois, tudo se apagou. Quando eu consegui abrir os olhos novamente, não vi nada. Então, olhei para mim. Não vi nada.

17 de agosto de 2008

Modalidade olímpica: pensar no tempo sem enlouquecer


Essa história de Olímpiadas na China me fez voltar a pensar no tempo de novo (Eu já pensei sobre ele aqui http://maisqueblablabla.blogspot.com/2007/11/sabe-o-tempo.html).

Poucas coisas no mundo são tão estranhas quanto ligar a TV no sábado à noite e ouvir o comentarista falando “Hoje faz uma bonita manhã de domingo aqui na China”.

COMO ASSIM DOMINGO?!?

Era sábado, dia 16, tava lá no calendário.

Tem aquela lei da Física (que eu esqueci o nome) que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Transponho essa idéia para o tempo, eu pergunto: como pode ser sábado e domingo ao mesmo tempo?!?

É muito estranho assistir os jogos Olímpicos e, no sábado à noite, ver o atleta ganhar uma medalha ... durante a linda manhã de domingo chinesa! Às vezes me dá a impressão de estar vendo o futuro acontecer, pois vejo na TV os acontecimentos do dia seguinte. Eu vi o que estava acontecendo no domingo.

Não é estranho pensar que na China (e nos países do lado de lá), tudo acontece antes de acontecer aqui? Lá amanhece primeiro, anoitece primeiro, o dia seguinte chega antes... dá uma certa inveja, pois é como se o futuro chegasse primeiro lá, como se nós vivêssemos em constante atraso.

Talvez isso seja verdade, e o Brasil esteja sempre perdido em algum lugar do passado... talvez isso explique como nós conseguimos ficar atrás de países como o Cazaquistão, o Azerbaijão e a Mongólia no quadro de medalhas... (não acredita, olhar só
http://esportes.terra.com.br/pequim2008/interna/0,,OI3068380-EI10378,00.html)



7 de agosto de 2008

10 descobertas que vão mudar o mundo


1- As fôrmas dos sapatos aumentaram

Eu calço 34 e como se já não bastasse a pequena dificuldade em achar sapatos do meu número, descobri que os sapatos 34 simplesmente não me servem mais. Desde os 11 anos eu calço 34 e sempre comprei sapatos que ficavam certos no meu pé, mas todos os últimos sapatos que comprei ficaram meio grandes. É bem provável que a industria dos sapatos (industria sapateira? sapatista? calçadista? sei lá, enfim...) resolveu agradar as mulheres de pé grande e aumentaram a fôrma dos sapatos, ou seja, quem comprava sapato 40, agora pode comprar 38 e ser feliz! E eu? vou ter q comprar 33? 32? Eu adoro a Hello Kitty, mas ter q usar aqueles sapatinhos cheio de desenhinhos e purpurina, não vai dar...
Por falar em Hello Kitty, isso me leva a descoberta número 2.

2- Solteiros não arrumam a cama

As colchas da minha cama e da minha irmã estavam velhas e por isso decidi comprar umas novas. Eu andei em milhares de loja e não achava colchas para cama de solteiro e eu ainda precisava de duas iguais (uma pra mim e outra pra minha irmã). Só existem colchas de casal e infantil... ou seja, aos 12 as pessoas param de arrumar a cama e só voltam a fazer isso depois do casamento.. bom, sei lá, eu sempre arrumei a minha, até porque acho meio porquice deixar o edredom em cima da cama, aí vai um e deita, vai outro coloca o pé em cima e à noite você dorme naquilo. Eu estava quase aceitando o fato de que teria que comprar uma colcha da Hello Kitty ou da Moranguinho, quando achei duas colchas iguais, muito rosas. No final, a colcha da Hello Kitty seria mais discreta.

3- O nervoso te impede de sentir dor

Depois de passar apenas umas 5 horas me arrumando pra uma festa de formatura, fui colocar o vestido que usaria (um vestido que queria há muito tempo ...), quando, de repente, o vestido resolveu se auto-destruir em 30 segundos. O bordado começou a desmanchar e eu dei graças a Deus por ele resolver se suicidar em casa, pois se tivesse ido pra festa com ele, teria ficado pelada. É claro que, antes de dar graças a Deus, eu dei um piti. Surtei! Tive que ir com outra roupa e terminar de me arrumar correndo... O nervoso foi tanto que, só no dia seguinte, percebi que tinha queimado meu braço e meu rosto em dois lugares com o baby-liss e sequer tinha percebido. Tudo bem que, quando eu vou tirar sangue, fico nervosa, dou piti... e dói do mesmo jeito. Talvez o nervoso só impeça dores causadas por queimadura, vai saber...

4- Falta de memória te faz uma pessoa injusta

Eu ODEIO quando alguém mexe nas minhas coisas. ODEIO em dobro quando mexe em algo meu e não coloca no lugar de onde tirou. ODEIO ao cubo quando além de mexer sem pedir, não coloca no lugar de onde tirou e a coisa... some. Nos últimos dois meses, minha casa estava uma bagunça por causa da reforma e várias coisas minhas sumiram. Sempre que eu acusava alguém, falando que a pessoa tinha perdido aquilo que era meu, pronto... eu achava e percebia que eu mesma tinha guardado naquele lugar e tinha esquecido.

5- Lugares menores se sujam mais facilmente

A minha casa tinha uma cozinha enorme e eu fazia qualquer coisa (ou quase qualquer coisa... ou uma lista grande de coisas) só pra não ter que passar pano na cozinha. Depois da reforma, a cozinha ficou muito menor e, não sabemos porque, está sempre suja! A outra cozinha, que era enorme, vivia limpia. A cozinha nova é assim: olhou, sujou!

6- Reformas são mais efecientes para o emagrecimento do que academias

Ano passado, eu passei o ano todo indo 3 vezes por semana na academia para emagrecer 2 míseros quilos. O meu pai passou apenas 2 meses "vigiando" a reforma e emagreceu uns 10. Talvez haja alguma ligação entre os ponteiros da balança e os dígitos da conta corrente.

7- Dinheiro não compra as pessoas

Embora muita gente ache que dinheiro compra tudo, inclusive amigos, isso não é verdade. Nesses últimos meses aconteceram algumas coisas que me fizeram ver que nem mesmo muito dinheiro pode comprar amigos para uma pessoa chata, insuportável e arrogante. Infelizmente, não posso dar mais provas sobre o caso, pois a pessoa chata, insuportável e arrogante seria identificada.

8- Tem (des)gosto pra tudo

Se tem uma coisa que me faz odiar rodeios são os peões. Não os peões que montam nos touros e cavalos, mas aqueles peões nojento e melecas que ficam circulando pela festa, pagando de gostoso e tentando seduzir todas as mulheres do lugar. Quando um desses se aproxima de mim, eu tenho vontade de enfiar uma bomba bem no meio da cara dele. Pensava que todas mulheres, ou ao menos as mulheres que eu conhecia, também pensassem assim. Ledo engano. Algumas discordam plenamente e ainda apelidam essa pseudo-espécie de homens de "Cat". Na minha opinião, eles estão mais pra rato, lesma ou qualquer bicho melequente e asqueiroso... argh! Também não posso dar maiores informações sobre o caso para preservar a identidade da pessoa em questão. A coitada já paga mico suficiente tirando foto "cos peão de rodeio".

9- Na Unicamp nunca tem aula na primeira semana do semestre (ou, ao menos, no IEL)

Nesses meus quase 6 anos de Unicamp, eu nunca tive aula na primeira semana. No máximo, tive uma apresentação de curso de 20 minutos. Esse é o lado negativo das universidades públicas: os professores são influentes e, no começo do semestre, estão sempre voltando de algum congresso, terminando algum relatório ... ou simplesmente fazendo de conta que estão fazendo algo importante e não podem dar aula.

Essa descoberta já é antiga, mas achei bom colocá-la aqui para avisar algum desavisado.

10- As músicas de balada sempre têm letras idiotas

Nós vivemos reclamando que axé e pagode não tem letra que preste, mas passamos horas e horas ouvindo música eletrônica "muito boa". Muito boa ... pra quem não sabe inglês. Boa parte delas tem uma estrofe de 5 linhas que se repete ao longo dos 5 minutos de música. Outras, tem letras tão pornográficas quanto as do É o tchan. E, por fim, tem aquelas com letras totalmente sem sentido. As músicas de balada sempre tem letras idiotas, mas continuo gostando delas mesmo assim.


Boomp3.com

21 de julho de 2008

Aprender a ler bons livros é uma forma de libertar-se


... um século depois, cá estou eu, postando novamente...

No entanto, o texto abaixo não é de minha autoria, mas de Milton Hatoum, um ótimo escritor brasileiro que ainda está vivo (ao contrário do que muitos pensam, existem escritores bons e vivos! - recomendo a leitura do seu livro "Dois irmãos").

Resolvi postá-lo pois ele fala sobre uma idéia na qual acredito muito: o hábito da leitura é muito importante para a formação de cidadãos, críticos e ativos.


"Aprender a ler bons livros é uma forma de libertar-se.
Dificultar ou barrar o acesso das artes e da cultura livresca a
pessoas humildes é, no mínimo, uma miopia política e um
preconceito de classe. Talvez seja uma das maiores indignidades
deste país, em que certos investidores, políticos e banqueiros
saqueiam a nação de um modo vil e quase sempre impune."

I

No dia 22 de dezembro de 1988 Chico Mendes foi assassinado na soleira da porta dos fundos de sua casa, em Xapuri. Uma casa de madeira, com dois quartos pequenos separados por um tabique, e uma saleta onde mal cabem duas cadeiras, uma mesinha e uma estante. Poderia ser a casa de um homem só, mas nela moravam também a mulher e os dois filhos do líder dos seringueiros.

Uma modesta biblioteca me chamou atenção quando visitei a casa desse homem covardemente executado. No canto da estante havia livros de ficção, história, política, geografia e alguns volumes de uma enciclopédia. Enquanto lia o título de cada livro, imaginei o leitor sentado diante de uma mesinha ao lado de sua cama; imaginei também o escritor anotando idéias, impressões e aforismos sobre a vida na floresta, a vida dos trabalhadores que dependem do meio ambiente para sobreviver. Ou melhor, para viver com dignidade.

A estante com livros tem um forte significado simbólico: a morada de Chico Mendes e sua família é também uma casa de leitura. Às vezes, o assassinato de um ser humano é o triunfo da violência covarde contra a inteligência e o conhecimento.

II

Tão simbólica quanto real é a Casa de Leitura Chico Mendes, situada na zona leste de Rio Branco, num bairro que também tem o nome do líder assassinado. A Casa de Leitura foi criada em 2005 por Gregório Filho, então diretor da Fundação Elias Mansour. É um projeto educacional e cultural simples e despretensioso. Por isso mesmo impressiona. E, por que não dizer, comove. Impressiona e comove por sua ampla dimensão social, e também porque as pessoas envolvidas nesse projeto são educadores apaixonados pela profissão a que se dedicam. Voluntários da própria comunidade do bairro Chico Mendes participam das atividades da Casa. Mais de cem crianças e jovens de um subúrbio pobre são estimulados a ler, ouvir e contar histórias. Cantam, brincam, lêem e encenam jogos e breves peças teatrais num espaço que não é uma creche, e sim um lugar de descoberta do mundo, viagem do imaginário.

Aprender a ler bons livros é uma forma de libertar-se. Dificultar ou barrar o acesso das artes e da cultura livresca a pessoas humildes é, no mínimo, uma miopia política e um preconceito de classe. Talvez seja uma das maiores indignidades deste país, em que certos investidores, políticos e banqueiros saqueiam a nação de um modo vil e quase sempre impune.

Há outras Casas de Leitura na capital e no interior do Acre, e a idéia da Fundação Elias Mansour é expandir e multiplicar essa experiência em vários municípios acreanos. Um trabalho semelhante é feito pela Expedição Vaga-Lume, uma ONG que atua em muitas cidades e comunidades da Amazônia. Seria interessante estabelecer um diálogo entre essas duas experiências, pois ambas são vitoriosas e servem de exemplo transformador para o Brasil.

III

Desconfio de projetos megalômanos e de discursos pomposos. A Amazônia - plural, complexa, diversa - exige estudos minuciosos, olhar de lupa, conhecimento científico e cultural apurados. Isso está sendo feito aos poucos e sem muito alarde no Acre. A Usina de Artes e a Biblioteca da Floresta Marina Silva são mais dois belos exemplos de intervenção cultural em Rio Branco. A Biblioteca é um projeto de arquitetura ousado que abriga atividades culturais relevantes, exposições permanentes sobre os povos indígenas e descobertas arqueológicas do Acre. Além disso, promove debates sobre questões da Amazônia. É um laboratório vivo e dinâmico que não deixa nada a desejar a uma boa biblioteca de um país civilizado.

O Acre era um Estado esquecido e marginalizado. O fato de hoje situar-se no centro da transformação social da Amazônia não é um milagre, e sim fruto de um processo que exigiu trabalho árduo, luta e participação popular. E ainda a determinação de um grupo político coeso, sonhador e com visão transformadora, movido pela crença na utopia, esta palavra tão fora de moda.

Chico Mendes e outros brasileiros foram assassinados ao longo desse processo. Oxalá o atual governo e políticos progressistas do Acre não se acomodem, nem façam alianças duvidosas com o único objetivo de manter-se no poder. O trabalho de dez anos pode dissipar-se em dez semanas. Sem contar que, no Brasil, a mediocridade e as forças conservadoras têm garras poderosas. No fundo, a luta contra a barbárie deve ser constante, sem trégua e sem descanso. Na sua aparente simplicidade, as Casas de Leitura são marcos pontuais de civilização e pesam muito mais do que uma tonelada de retórica ou propaganda, que, essa sim, não passa de promessa vazia.

Fonte: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3019944-EI6619,00.html

27 de abril de 2008

Um, dois, três

Ela sentia a tristeza de uma tarde de outono. Um daqueles dias cinzas, de ar pesado e muitas folhas mortas pelo caminho. Era assim que ela se sentia. Morta. Marrom e sem vida. E entendia porque há tantos suicídios nos países europeus. Como resistiriam a um ano repleto de dias em cinza e branco, como se o mundo ainda estivesse nos anos de cinema mudo e sem cor do começo do século passado?

Muda. Ela também não tinha voz. E mesmo que tivesse, sabia que de nada adiantaria gritar a sua raiva perante tanta mediocridade. De nada adiantaria. Ela não mudaria as coisas, que continuariam sendo como sempre foram. Não faria com que as pessoas deixassem de ser menos ... repugnantes.

Ela só queria fechar os olhos, contar até três e ver o mundo sumir. Não o mundo todo. Mas queria ver sumir as tantas coisas nojentas que vê todos os dias. Não agüentava mais relacionamentos baseados no interesse. Tanta falsidade e fingimento. Falta de respeito. Falta de educação. Falta. Ela sentia falta de coisas melhores e assim aprendia que era possível sentir falta daquilo que nunca se teve.

Da janela do quarto via a única árvore do quintal. Já não se viam mais árvores como antigamente. Também estavam em falta. Já quase não tinha folhas, mas... apertou o olho e viu algo diferente em meio a tanta falta de vida. Ainda havia ali uma folha, uma pobre coitada que teimava e não se rendia as leis da natureza. Teimava em não se deixar levar, em não cair. Ainda estava verde.

6 de abril de 2008

E a sua vida... o que é meu irmão?!

Enquanto eu lia um outro blog esses dias (tem o link aí do lado... é o I just want you know), eu lembrei de algo que aconteceu em uma festa e me chamou a atenção.

Como quase sempre acontece nas festas do campus (com exceção das festas do IEL, é claro!rs), era mais uma festa miada! beeeeeeem miada, diga-se de passagem! Lá estavamos nós, eu e mais uma amiga, numa festa animada pelo som de um carro, com meia dúzia de gatos pingados.

Depois de termos xingado até nossa última geração e de termos prometido que nunca mais iríamos numa festa do campus (coisa que a gente sempre promete, mas nunca cumpre), a festa começou a melhorar um pouco. Surgiu um DJ e, além dele, ainda tinhamos o som do carro, que estava bem legal. Mas a gente continuava reclamando!

Aí começaram a surgir partes de uma banda... bateria... guitarra... microfones... não era possível que iam montar uma banda aquela hora, já devia ser mais de meia-noite! Sim, era possível. Em festas no campus da Unicamp, tudo é possível...

Já eram umas 2h da madrugada quando a banda começou. No fundo, ficamos até com dó do pessoal... a festa estava tão miada, que boa parte das pessoas já tinham ido embora e a banda era boa, merecia um público. Eles começaram a tocar samba-rock.

Foi quando vimos um homem dançando muito animado. MUITO! Não era um aluno da Unicamp. Era o catador de latinhas da festa. Ele dançava tanto, parecia tão feliz! E foi aí que bateu a vergonha. Porque a gente passa o dia todo, vendo um momento de gente (grupo no qual nos incluímos) que tem tudo na vida, reclamando de TUDO, o tempo TODO!

E aí você vai em uma festa miada, chaaaaaaata e vê uma pessoa se divertindo tanto. Uma pessoa que, com toda certeza, não tem 10% do que nós temos. Uma pessoa para qual muita gente olha e pensa "esse aí, é um pobre coitado, não tem nada na vida, nasceu pra sofrer".

Mas a gente viu felicidade de verdade naquele homem!

17 de março de 2008

por quê? pOr QuÊ? POR QUÊ?

Por que será que meu blog anda tão parado?

a) Porque eu não gosto mais de escrever.
b) Porque eu não tenho mais nada pra escrever.
c) Porque eu percebi que esse negócio de blog é uma babaquice e vou acabar com isso tudo de uma vez.
d) n.d.a

Resposta certa: n.d.a

Acontece o seguinte...

As aulas começaram e aulas é sinônimo de... falta de tempo!

Agora, o pouco tempo que me sobra livre, passo lendo textos (em inglês) totalmente compreensíveis sobre as ondas senóides perfeitas formadas por estruturas físicas que não existem no mundo real. Ou então, fico fazendo exercícios de semântica que mais parecem uma prova de matemática do ensino médio (como meu pai indagou "Mas você tá fazendo Linguística ou Matemática?"). Isso sem contar os filmes sobre meninos selvagens e os exercícios sobre uma língua indígena do fim do mundo que ninguém conhece.

Oui,
C'est La Vie!



*Comentário 1: Quando escrevi esse post, lembrei do Pedrinho. O menininho loiro, filho do dono do varejão, que adora ir na minha casa. Ele é fofo, inteligente, fala que nem papagaio, é muito esperto pra um garoto de 2 anos e adora chocolate. Ele me acordar às 9h no domingo, joga todos os bichos de pelúcia e travesseiros no chão da sala e passa o dia todo perguntando: O que é isso? Pra que serve isso? Por que Aline, por quê? E só eu tenho paciência pra responder mil vezes a mesma coisa. Isso é o controle, Pedrinho. Isso serve pra abrir a porta do carro, Pedrinho. Porque faz mal Pedrinho, você já comeu muito chocolate hoje.

*Comentário 2: Eu adoro criança!




8 de março de 2008

De quem é o Dia da Mulher?


Eu tenho certeza que aquelas mulheres que queimaram seus sutiãs em praça pública, ficariam indignadas, senão totalmente revoltadas, ao ligarem a TV ou abrirem uma revista.

Muitas vezes, na verdade quase sempre, eu chego a ter vergonha das mulheres. As queimadoras de sutiãs também teriam. Quem não se lembra do baixíssimo episódio do carnaval, quando a mulher perdeu seu tapa-sexo no desfile, em rede nacional. Como se já não bastasse o fato dela se sujeitar a usar apenas um tapa-sexo, quando deveria estar usando no mínimo um biquini, ao perdê-lo, sequer TV vergonha o suficiente pra se esconder. Sei lá... sair correndo, chorar, desmaiar. É inacreditável que uma mulher fique nua na frente do país inteiro e nem se importe com isso. Eu acho que, por pior que uma pessoa seje, ela deve ter pelo menos amor próprio, respeito por si mesma. E ela não tinha. Ela e muitas outras.

Realmente não entra na minha cabeça como tem mulher que aceita ficar pelada em revista, em troca de dinheiro. Eu sei que é muito dinheiro, mas pra mim dinheiro nenhum vale o meu amor próprio e o meu respeito.

Também não dá pra entender que existe mulher que aceita marido safado e sem-vergonha, machista, aceita apanhar ou ser humilhada, em troca de uma vida boa, com carro na garagem e roupa de marca na gaveta. Não sei, mas eu acho que seria mais digno (e claro, mais difícil) trabalhar, ter seu próprio carro e dinheiro.

Ainda acho díficil entender como, em pleno século XXI, existem mulheres que se contentam com uma vida de dona de casa e mãe zelosa. E nada mais. Elas não tem um pingo de independência ou autonomia. Tenho amigas que se casaram e recebem ordens do marido. Assim como as coisas eram na época da minha avó.

Eu realmente admiro as mulheres que têm coragem de fazer algo por elas mesmas. Que casam e têm filhos, mas não largam o resto da vida por isso. É bom saber que ainda existem mulheres que estudam, trabalham, ocupam posições importantes. Mulheres que fazem algo pra melhorar o mundo ou o lugar onde moram, que montam ONGs, coordenam projetos sociais e educacionais. Mulheres que são notícias, mas por atitudes inteligentes e admiráveis.Mulheres que sabem que merecem uma vida que vai além das vassouras, do tanque de roupa suja e do fogão.

26 de fevereiro de 2008

Conspiração

Eu conheço muitas pessoas que acham que o mundo conspira contra elas. Sempre achei isso um absurdo. Primeiro, porque é muita prepotência achar que o mundo inteiro vive com o único objetivo de atrapalhar a sua vida. Segundo, porque eu acho que tudo que acontece com a gente é consequência de nossos próprios atos. No entanto, ultimamente tenho acredito que sim, o mundo conspira contra mim!
É realmente estranho, e até assustador, mas eu planejo ou prometo fazer alguma coisa e aí... pronto! Vem algo e me atrapalha, me impede. Agora mesmo, acabei de passar por isso.
Eu sou uma pessoa viciada em doces. De todos os tipos. Tinha prometido a mim mesma que, a partir dessa semana, ia evitar chocolates, bolos e a sobremesa na hora do jantar. Vinha conseguindo cumprir o prometido, até troquei um delicioso pudim de leite condensado por umas fatias de melancia no jantar de ontem. Até que... passou o carrinho da mulher que vende comida na minha baia... com o perfeito bolo de chocolate com recheio de prestígio. É sacanagem!! Há meses eles não vendiam esse bolo e justo agora, justo no meu terceiro dia sem doces, essa mulher me aparece com o bolo. Comi, lógico. Não consegui resistir. E lá se foi, por água abaixo, os 50 minutos que passei na esteira da academia hoje de manhã.
Um fato parecido ocorreu em outubro do ano passado. Eu fui tomar um maldito remédio contra-acne (sim, aquele Roacutan assassino). Resultado: tomei dois comprimidos (APENAS DOIS!) e as minhas plaquetas caíram de uns 220 mil para apenas 25 mil. Eu quase fiquei internada e quase tive que fazer uma transfusão. Isso só não aconteceu porque eu fui ao médico muito rápido e comecei a tomar um remédio para normalizar o nível de plaquetas. Detalhe: o remédio que normaliza as plaquetas (esqueci o nome) dá acne! Maldição! Tive que tomar a porcaria por uns 50 dias e, felizmente, minha pele só deu uma pioradinha. Aí minhas plaquetas voltaram ao normal e eu já podia parar de tomar o outro remédio, estava toda feliz... até que... fiquei sabendo que teria que refazer uns exames e por isso tive que parar de tomar anticoncepcional (que eu também estava tomando para ajudar no tratamento de pele). Fiquei dois meses sem tomar o remédio e minha pele está a merda de sempre.
Isso sem contar quando eu passo um tempão fazendo escova no cabelo, ele fica perfeito e aí... chove. Soma-se a isso, os sábados em que meu pai passa a manhã toda limpando a piscina e à tarde... chove. No domingo, chove. Na segunda, quando eu tenho que ir pra aula e ir trabalhar depois... faz aquele sol de cartão postal. Ainda tem mais. Como o dia que resolvi matar aula pra ir na festa de aniversário de um amigo e a professora resolveu adiantar a apresentação dos trabalhos em 15 dias, advinha quem ficou com o primeiro dia de apresentação?!
Ou isso é uma conspiração contra mim ...
Ou eu joguei pedra na cruz.
Só pode!

ps: o nome do post ficou parecendo nome de filme