28 de dezembro de 2008

A fenda do biquíni

Poucas coisas no mundo são tão odiosas quanto comprar biquíni.

EU ODEIO COMPRAR BIQUÍNI!

Eu odeio porque eu odeio biquíni pequeno. Odeio estampas horrorosas. Odeio biquíni sem estampa. Odeio lacinhos do lado. Odeio porque eu uso cada parte do biquíni de um tamanho. Odeio porque a gente sempre fica gorda de biquíni. Odeio pagar uma fortuna numa peça de roupa de 30 cm.

Eu queria viver no começo de século, assim eu poderia ir à praia de roupa e não seria ridículo. Ou então, acho que eu queria ser homem pra poder ir à praia de bermudão sem parecer cafona ou tiazona.

Mas, por mais que odeie, todo ano é assim. O verão chega e se eu quiser usufruir do sol, piscina e mar, tenho que me aventurar nas lojas que vendem biquíni.

E se tem uma coisa pior que comprar biquíni, são as vendedoras que vendem biquíni. Elas são um SACO. Mal-humoradas ou desanimadas, não importa: odeio todas elas. Hoje, estava em uma loja repleta de biquínis, com biquíni até o teto. Pedi um biquíni preto. Não tinha. Pedi um biquíni franzido do lado. Não tinha. Pedi um biquíni com bojo. Não tinha. Não tinha &*%@# nenhuma! E aqueles 321.235.203 milhões de biquínis na minha frente, eram o quê, ilusão de ótica?!

Aliás, as más vendedoras estão se procriando pelo mundo. Estão em todas as lojas de todos os lugares. Eu imagino que passar o dia todo em pé, aguentando gente chata e metida, não deve ser muito agradável. Não deve ser muito legal ser vendedora, mas ou você procura outra coisa pra fazer da vida ou tenta ser a melhor vendedora que você pode ser. Porque, quanto melhor vendedora você for, mais vai vender, quanto mais você vende, mais você ganha... e dinheiro no bolso sempre dá uma melhorada na vida.

Lá estava eu, no shopping lotado, um calor infernal, odiando todas as vendedoras e todos os biquínis do mundo, quando entrei em uma dessas lojas grandes, de rede. No provador da loja, estava trabalhando uma moça deficiente (devia ter algum tipo de deficiência mental). Ela falava "bom dia" para todas as pessoas que entravam e falava "obrigado" para todas pessoas que saíam e devolviam as roupas no cabide. Ouvir "bom dia" e "obrigado" não é coisa fácil dentro de uma loja e essas palavras fizeram dela a melhor vendedora do dia.

Eu imagino que não deve ser nada fácil ser deficiente em um mundo como o nosso, onde só a perfeição é valorizada, onde ter o nariz meio grande ou um peito pequeno já é motivo para revolta, depressão e até mesmo suicídio. Quem tem algum tipo de deficiência, vive num mundo repleto de preconceito e exclusão. A sociedade o faz pensar que ele nasceu predestinado ao fracasso e a reclusão. Inserir-se igualmente na sociedade, é o sonho e, espero, o futuro de todo deficiente. Talvez, por isso, aquela moça trabalhava dando seu melhor.

27 de dezembro de 2008

Poesia 2




De vez em quando Deus me tira a poesia.

Olho pedra e vejo pedra mesmo.




Adélia Prado. Poesia Reunida, p.199

22 de dezembro de 2008

Conheça - Ana Miranda

Ana Miranda é tão boa historiadora, quanto escritora. E vice-e-versa. Suas obras são, em grande maioria, históricas e recheadas de acontecimentos reais que trazem ainda mais vida aos seus livros. Li dois de seus livros, Desmundo (que já virou filme) e Boca do Inferno, ambos retratam o país da época de 1500/1600.

Desmundo conta a história de jovens órfãs portuguesas que foram traduzidas para o Brasil, no início do período de colonização, com um objetivo nada agradável: casar-ser com os homens (sujos e truculentos) que aqui moravam e povoar a nova terra.

Boca do Inferno conta a história do poeta Gregório de Mattos e de Padre Antônio Vieira. Entre realidade e ficção, a escritora ainda conseguiu inserir uma história policial instigante, repleta de tirania e corrupção.

Os dois livros valem à pena serem lidos, especialmente por aqueles que gostam de saber mais sobre a História do nosso país.

Abaixo, vocês podem encontrar algumas informações sobre Ana Miranda, retiradas de sites.

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Ana Miranda nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1951, e mudou-se para o Rio de Janeiro aos cinco anos de idade. Em 1959, foi para Brasília, onde o pai, engenheiro, trabalhava na construção da cidade. De volta para o Rio de Janeiro, deu continuidade aos seus estudos.

É uma escritora profissional: fez parte de várias antologias, faz artigos para jornais ou revistas; trabalha com roteiros para cinema. Colaboradora, desde 1998, com a revista Caros amigos, e, desde agosto de 2004, escreve crônicas no Correio Braziliense.

Foi escritora visitante na Universidade de Stanford em 1996, e fez palestras e leituras nas Universidades de Berkeley, Yale, Darthmouth, de Roma, dentre outras. Em 1999 e 2003, Ana Miranda representou o Brasil na União Latina, em Roma e em Paris.


PUBLICAÇÕES

- Anjos e Demônios (Poesia, 1979)
- Celebrações do Outro (Poesia, 1983)
- Boca do Inferno (Romance, 1989) - Foi publicado em diversos países, tais como França, Inglaterra, Itália, Estados Unidos, Argentina, Noruega, Espanha, Suécia, Dinamarca, Holanda, Alemanha. Vencedor do Prêmio Jabuti, em 1990.
- O Retrato do Rei (Romance, 1991)
- Sem pecado (Romance, 1993)
- A Última Quimera (Romance, 1993)
- Desmundo (Romance, 1996)
- Amrik (Romance, 1997
- Dias & Dias (Romance, 2002)
- Que seja em segredo (Poesia, 1998)
- Clarice (Novela, 1999) – Inspirada na vida de Clarice Lispector
- Noturnos (Contos, 1999)
- Cadernos de sonhos (contos, 2000)
- Dias e dias (Romance, 2002) – Vencedor do Prêmio Jabuti 2003 e Prêmio da Academia Brasileira de Letras
- Deus dará (Crônicas, 2003)
- Flor do Cerrado (Infanto-Juvenil, 2004)
- Prece a uma aldeia perdida (Poesia,2004)

Mais informações: pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Miranda
www.anamirandaliteratura.hpgvip.com.br


17 de dezembro de 2008

Um mundo sem brigadeiro


Hoje eu me lembrei de um fato que aconteceu há uns dois anos e me chocou. Me chocou muito!

Durante um ano, minha família decidiu fazer uma atividade voluntária em um orfanato. Na verdade não era bem um orfanato, era mais um abrigo, lá estavam crianças que foram retiradas temporariamente de suas casas por causa de maus tratos, alcoolismo dos pais, coisas do tipo. Todo mês nós fazíamos festa de aniversário para as crianças. A gente decorava um salão, levava lanche, bolo, refri e presente para os aniversariantes do mês. A gente também levava brigadeiro. E foi então que eu ouvi algo que até pode parecer banal, mas mexeu comigo, com todo mundo.

Um menino virou para mim, apontou para um brigadeiro e perguntou "Tia o que é isso?". Eu respondi "É brigadeiro". "O que é brigadeiro?"

COMO ASSIM?!

Como é possível uma criança não saber o que é um brigadeiro?! É um negócio simples, que a gente sempre come em casa e em festa de criança. Toda criança sabe o que é um brigadeiro!

Mas ele não sabia.

Quão feliz pode ser uma criança que vem de um mundo sem brigadeiro?!

16 de dezembro de 2008

Porque esse osso eu não largo

Lembro que na minha colação de grau, um dos meus amigos me disse: “É a primeira vez que vou em uma colação e não acho chato, entediante, não quero ir embora. Aliás, acho até que teria ficado mais, pelo menos mais uma hora. Como é bom ouvir gente que sabe o que fala”.

Ele era um estudante de Física da mesma universidade, então não estava apenas vislumbrado. Ele apenas notou algo que eu mesma notei, quando fui sábado à colação de grau dos formados de Letras e Lingüística, turmas de 2005: quando você sabe e gosta do que faz, faz muito bem!

Não há nada mais entediante que discurso de professor em colação. Não há nada mais bonito que discurso de professor estudioso de linguagem e literatura em colação. Quem entende de linguagem, sabe usá-la da maneira mais produtiva, atraente e bonita possível. Quem entende de linguagem, transforma tédio em poesia.

Às vezes, como em uma cena de filme, me vejo indo a todas as colações de lá. Todos os anos, mesmo quando já não conheça mais ninguém, nenhum formando, irei a todas elas. Mesmo que muito tempo se passe, irei a todas elas. Mesmo depois de velha, irei a todas elas... se houver a garantia de que ouvirei discursos como os de sábado.

Foi então que percebi que é isso que me prende aquele lugar. Foi por isso que, não contente em fazer um curso de graduação, ingressei em outro. É por isso que ano que vem, antes mesmo de terminar o segundo curso, me inscreverei em outro.

Aquele lugar exala sabedoria. Conhecimento. Reflexão. Palavras. Foi depois daqueles discursos que assumi que não consigo viver longe disso. Porque depois de 6 anos de estudo, tudo isso também já faz parte de mim. Tudo isso me move. Tudo isso me agarra e me impede de ir embora.

Como um outro amigo me disse... esse osso, eu não largo não!

9 de dezembro de 2008

Capitu na TV


Hoje estréia, na Globo, a minissérie CAPITU, adaptada do livro Dom Casmurro de Machado de Assis. Serão, ao todo, 5 capítulos.


Eu adoro o livro e acho que vou adorar a minissérie. Pelas propagandas e pelas fotos que vi no site, a adaptação é parecida com Hoje é Dia de Maria, que eu adorei! Parece ter o mesmo ar mágico e fantasioso.

Como eu digo, não existe nada que seja de todo ruim. A Globo, como quase todas as outras emissoras de TV gratuitas, é uma droga. As programações são péssimas, com novelas ridículas e sem noção, programas de auditório idiotas e humilhantes, filmes repetidos pelas milésina vez... Mas, uma coisa não se pode negar: as minisséries da Globo são, em geral, muito boas! Eu acompanhei algumas delas e foram todas muito bem feitas, com boas histórias, bom elenco e um enredo interessante.

Quem vai fazer a Capitu, mais uma vez, é a Maria Fernanda Cândido. Ela não me agrada muito como atriz, mas se Machado estivesse vivo e pudesse escolher sua própria Capitu, com certeza, seria ela! A descrição da personagem casa perfeitamente com as características da atriz.

A emissora também montou o Projeto Mil Camurros, que funciona assim: quem quiser, escolhe um trecho de Dom Casmurro, grava e manda pra eles. No site, você pode ouvir as leituras simultâneas. Embora tudo isso tenha sido feito com o intuito de divulgar a minissérie, achei a idéia ótima! É uma maneira nova e interessante de levar literatura às pessoas.

Mais informações, no site http://capitu.globo.com

7 de dezembro de 2008

Eu não sei gramática

Sempre que uma pessoa descobre que sou formada em Letras, pronto, acabou minha paz!

As pessoas adoram me encher de perguntas sobre ponto, vírgula, crase, funções do que, sinônimos, figuras de linguagem, acento, conjunções, significado de palavras. Quando eu digo que não sei, me olham com cara de como-assim-sua-burra-você-estudou-quatro-anos-pra-quê?

Eu não sou uma gramática ambulante, muito menos um dicionário completo da Língua Portuguesa, graças à Deus! Quando eu soube que não teria aulas de gramática na faculdade, pulei de alegria. Na verdade, fiz uma ou duas disciplinas sobre gramática, nas quais nós passávamos o tempo todo criticando a gramática, os livros de gramática, a maneira como a gramática é ensinada na escola…

Não, eu não sei gramática! Até hoje, não sei direito quando usar ponto-e-vírgula. Também não sei usar crase, sempre faço o teste de substituir o a craseado por ao e a palavra seguinte, por um substantivo masculino, se der certo, ok, sorte minha. Já esqueci, faz tempo, o que é um Oração Coordenada Sei-lá-o-que. Às vezes, também não sei se uso que, qual, o qual, no qual, a qual, para o qual. Minha orientadora também já me disse que meu vocabulário de conjunções é restrito.

E, sabe uma coisa, nem ligo muito para isso. É claro que eu sempre me esforço para aprender algumas regrinhas, afinal, agregar conhecimento é sempre bom! Mas não faço questão de saber uma gramática de cor, de trás para frente. De nada adianta saber gramática e não ter nada na cabeça.

Saber uma língua é muito mais do que saber colocar o acento no lugar certo.

E foi isso que aprendi nesses 4 anos de estudo, e continuo aprendendo. O mais importante é saber como a linguagem funciona e, assim, usá-la à seu favor. Pois é através dela que expressamos nossas opiniões, sentimentos, idéias, ideais, ideologiais. É através dela que transmitimos nosso conhecimento, que recebemos conhecimento, que argumentamos, revidamos, nos protegemos, nos comunicamos. Se você conhece sua língua bem o suficiente para fazer tudo isso, pode ter certeza que não é uma simples crase que vai estragar tudo.

Aliás, acreditar que uma pessoa que fala/escreve errado não tem nada a dizer, é puro preconceito… Mas isso, é assunto para um outro post ;)