7 de outubro de 2010

Shiiiiiii


Não pense que escrevo aqui
o meu mais íntimo segredo,
pois há segredos
que eu não conto nem a mim mesma.

Clarice Lispector

1 de outubro de 2010

Vai saber...


Já faz um tempo que tô pra escrever sobre isso. Mas é que o assunto é ruim e é sempre difícil falar sobre coisa difícil. Um ex-colega de trabalho morreu há pouco menos de um mês. Quando chegou em casa, antes de entrar, foi abordado por dois sequestradores que o levaram no seu carro. Eu não sei exatamente como tudo aconteceu, mas a polícia deve ter sido avisada, houve perseguição, o carro capotou. Meu amigo ficou gravemente ferido, na coluna. Se tivesse sobrevivido, teria ficado paraplégico. Os dois sequestradores tiveram ferimentos leves. Uma semana depois, meu amigo morreu. Ele tinha 28 anos.

Esse tipo de coisa sempre faz a gente parar pra pensar na vida. É quase inevitável. Tudo isso me fez pensar em um monte de coisas. Que ele era jovem demais pra morrer. Que poderia ser eu no lugar dele. Que quem deveria ter morrido eram os dois sequestradores. Que a vida não é justa e nem nunca será.

Mas não é sobre nada disso que vou falar aqui. O que quero dizer é que tudo isso me fez ver que às vezes a gente faz coisas sem sentido, que todos pensam ser uma loucura... mas a verdade, é que nada acontece por acaso mesmo.

Meu amigo era super novo, mas já tinha sido casado, já tinha um filho (lindo de 6 anos). Se ele tivesse levado a vida que a maioria de nós, jovens do século XXI, leva, nada disso teria acontecido na vida dele. Ele ainda seria solteiro e, provavelmente, ter filhos não faria parte de seus planos a curto prazo. Ele ainda estaria se dedicando a sua formação e a sua vida profissional, pra ter um bom emprego, um futuro bom. Ele ainda estaria curtindo a juventude com os amigos, viajando nos feriados e teria certeza de que é jovem demais pra ter uma família.

Mas, sabe-se lá Deus porque, ele viveu diferente. Com certeza, quando ele se casou (ou foi morar junto com a namorada, eu não sei) com pouco mais de 20 anos, todo mundo deve ter dito a ele que isso era uma loucura. Quando o filho nasceu então, ele deve ter cansado de ouvir que perderia sua juventude. E no final, ele fez a coisa certa. Se ele tivesse levado a vida como a maioria de nós, teria ido embora sem passar pela experiência de ter uma família, ter um filho. Parece que ele já sabia o que ia acontecer.

Talvez no fundo, bem no fundo, a gente saiba qual é o nosso futuro, a gente sinta o que vai acontecer daqui pra frente. Por isso, talvez todo mundo faça besteiras que, embora não tenham o menor sentido no presente, farão toda diferença no futuro. E quando você pensa assim percebe que, às vezes, agir por impulso, ir atrás do que você tem vontade, por mais louco ou insensato que pareça, é a coisa certa a fazer.