19 de maio de 2009

Não vale a pena ver de novo


Estava lendo as notícias da Folha Online quando me deparei com a manchete "Professores da USP decidem greve nesta terça-feira". Quando tem greve na USP, tem greve na Unicamp. E eu não aguento mais greve!!!!!


Já perdi a conta de quantas greves enfrentei desde que entrei na Unicamp e todo ano é a mesma coisa: a greve começa com força, os pedidos dos grevistas nunca são atendidos, a greve dura mais, o pessoal vai cansando, a quantidade de pessoas que aderiram a greve diminui e, por fim, eles acabam aceitando uma proposta um pouco melhor do que a inicialmente feita, mas muito longe do que eles queriam. Aí nós, alunos, que tinhamos perdido semanas de aula, temos que nos contentar com 4 horas de reposição porque o conteúdo da disciplina estava bem adiantado ou porque o professor tem um congresso para participar e não poderá repor mais aulas.

Eu entendo que os trabalhadores precisam reivindicar seus direitos, como aumento salarial digno e melhores condições de trabalho... mas será que é realmente preciso fazer greve?! Não há outra maneira de expressar sua indignação e exigir que seus direitos sejam cumpridos?! Qual é, vocês são professores-doutores-de-sei-lá-o-quê, é impossível que ninguém tenha uma idéia melhor que a tão famigerada e banalizada greve.

Vamos a um exemplo. Na última semana, os motoristas e cobradores de Campinas decidiram fazer greve por melhoria salarial (aliás, o salário deles é uma esmola, chamar aquela miséria de salário é muita cara de pau). A greve durou 3 dias e Campinas virou um inferno. O trânsito ficou entupido, você não conseguia ir para lugar nenhum na cidade, era engarrafamento pra tudo quanto é lado. Resultado: os moradores da cidade foram prejudicados, a porcentagem de aumento oferecida (e aceita) não era nem metade do que os motoristas/cobradores reivindicavam e as empresas de ônibus tiveram um prejuízo de R$2,4 milhões.

O que eu teria feito: no lugar da greve, faria um "abre-catraca". Saíria por Campinas com todos (TODOS) ônibus circulando com catraca livre. A população (ao invés de jogar praga nos grevistas porque perdeu o dia de emprego) ia adorar, porque todo mundo ia andar de ônibus de graça. As empresas de ônibus iam odiar, porque o prejuízo ia ser muito (muuuuito) maior, imagine todos os ônibus circulando sem cobrar 1 centavo? Muito provavelmente, o acordo teria sido feito muito antes e acho até que a proposta de aumento poderia ser maior, afinal as empresas precisariam fazer um acordo logo, pois ninguém ia querer ônibus andando de graça por mais um dia.

As pessoas já conseguem fazer transplante facial, clonar bicho... já passou da hora dos sindicatos encontrarem maneiras alternativas de reivindicação, com menos sofrimento e mais sucesso que a greve.


Saiba mais:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u568048.shtml

Atualização (20/05): Professores da USP deliberaram paralisação dia 25/05.
http://www.adusp.org.br/noticias/expresso/boletim_129/index.html

17 de maio de 2009

Você tem orkut? Quer ser meu amigo?

Sábado eu estava vendo um programa na TV. Era um programa sobre uma academia de ginástica especializada no atendimento de obesos. O programa parece ser um reality show, mas é tudo tão certinho... enfim, o programa é meio besta mas tratou de um tema importante.

A dona da academia percebeu que a vida (e a saúde) dos alunos da academia não estava melhorando, muitos tinham, inclusive, engordado nos últimos meses, por isso resolveu fazer um retiro com eles e os professores. Ela levou uma terapeuta especialista em distúrbios alimentares que perguntou sobre o passado das pessoas, sobre o que elas tinham vivido até então. Todos eles haviam passado por algum trauma na vida: uma havia sido demitida do emprego dos sonhos, o pai de outra se suicidou quando ela tinha 15 anos... Todos tinham problemas pessoais e descontaram a raiva e a tristeza na comida.

É fato que a população mundial está cada vez mais acima do peso e o número de obesos não pára de crescer. Acredita-se que os grandes vilões da saúde são uma alimentação cada vez mais rica em gordura e açúcar e uma vida cada vez mais sedentária. Isso, com certeza, é verdade, mas eu acrescentaria um terceiro vilão: a solidão.

O discurso de que a tecnologia está encurtando distâncias e aproximando as pessoas só ajuda a encobrir o fato de que nunca existiram tantas pessoas solitárias pelo mundo. Muitas vezes você passa por um momento difícil e tudo que você precisa fazer é conversar com alguém, desabafar, livrar-se desse peso todo. Mas conversar com quem? Muitos país não ligam para os filhos (e vice-versa), muita gente não tem contato algum com primos e tios e as amizades verdadeiras estão entrando em extinção.

Por causa disso, formas de comunicação virtual se multiplicam tanto. As pessoas passam o dia todo desabafando e falando sobre sua vida no twitter porque elas não têm pra quem ligar, não têm com quem comemorar a promoção ou celebrar o fim da faculdade. As pessoas parecem estar implorando por atenção, carinho e companhia, porque elas simplesmente não têm alguém que se importe com elas.

Eu sinto muito por isso tudo. Eu sempre faço o possível para manter o contato com as pessoas, mas, às vezes, não dá. Você liga e a pessoa nunca atende. Quando atende, você a convida para ir a sua casa, sair, fazer qualquer coisa e... ela nunca pode, nunca dá. Você leva cano, é ignorado. E aí cansa. É triste aceitar, mas a grande maioria das pessoas só se importam com elas mesmas. E ponto. Não há mais consideração, empatia, preocupação.

Felizmente ainda existem algumas poucas pessoas sensíveis e companheiras no mundo. Se você conhece alguém assim, não perca a oportunidade de tê-la como amiga. Se você não conhece, seja essa pessoa para alguém.

15 de maio de 2009

Onde o hífen foi parar?

Para você que, assim como eu, não faz idéia onde foi parar o hífen depois da Nova Reforma Ortográfica, aí vai uma dica: o site www.ortografa.com.br

Você entra no site, digita a palavra do jeito que costuma escrever, clica em ORTOGRAFA e a nova ortografia da palavra aparece.

A lista de palavras do site está em constante atualização, por isso se você procurar uma palavra e não encontrá-la lá, avise o desenvolvedor.

Eu fiz alguns testes e deu certo.





2 de maio de 2009

É preciso ser normal?


Uma amiga me disse que não gostaria de trabalhar com afásicos porque é triste demais.

Afásico é uma pessoa que tem afasia. Explicando (resumidamente) afasia é a perda e/ou alteração da linguagem, produzida por lesões cerebrais como derrames, AVC, tumores e acidentes. A afasia se manifesta diferentemente de pessoa pra pessoa, de acordo com o tipo e local da lesão. Algumas pessoas têm dificuldade de articular bem as palavras, outras perdem a capacidade de traduzir conceitos em palavras ou têm dificuldade de reconhecimento (a pessoa não consegue entender direito o que os outros falam, porque não reconhecem as palavras). Algumas adquirem problemas pragmáticos (tornam-se agressivas ou falam coisas inadequadas e palavrões/ofensas o tempo todo). Outras têm problema de percepção da sua própria fala (a pessoa acha que está conversando normalmente mas, no fundo, está produzindo um amontoado de sons ou palavras que não fazem sentido algum). E há, ainda, aquelas que perdem totalmente a linguagem. Todas elas apresentam dificuldades tanto na fala quanto na escrita, porque a afasia faz com que a pessoa perca a capacidade de traduzir o comando cerebral (as idéias, palavras e sons dentro do seu cerébro) em linguagem, seja ela escrita ou oral.

Há algum tempo eu venho participando das sessões do CCA. O CCA é coordenado pelas professoras de Neurolínguística do IEL e tem como objetivo ser um lugar onde os afásicos sejam estimulados a voltar a falar e criar outras formas de comunicação. A atividade da última sessão do CCA era relacionada a esse último objetivo: brincar de mímicas.

Os afásicos foram dividos em 2 grupos, uma pessoa de cada grupo sorteava um papel com a mímica a ser feita e o outro grupo tinha que adivinhar. Todos participaram, inclusive aqueles que tinham afasias muito severas, como um senhor que não fala uma palavra sequer. Muitos deles também tem problemas físicos (tem algum lado do corpo paralisado, andam de muleta ou cadeira de roda), o que traz limitações e dificulta as mímicas.

Todos se saíram muito bem. As mímicas eram muito criativas, significativas e inteligentes (eu não teria pensado na maioria delas). E eles são ótimos adivinhadores de mímicas, não erraram uma sequer! É como se, ao perder parte da linguagem, eles desenvolvessem melhor outros meios de comunicação, expressão e percepção. Eles adoraram a brincadeira, se divertiram e todos nós rimos muito.


Onde eu quero chegar com tudo isso?


Nós todos temos a ilusão (muito inocente) de que é preciso ser normal para ser feliz. Temos a crença prepotente de que somos muitos mais felizes do que as pessoas que têm algum tipo de deficiência ou limitação. Afinal, como alguém pode ser feliz sem uma perna, sem poder falar, ver ou ouvir?

No entanto, conheço muitas pessoas "normais", e que pensam beirar a perfeição, que não sabem ser feliz, nem se divertir. Precisam de rios de dinheiro ou de programas extraordinário para dar um sorriso, enquanto os não-normais se divertiram e riram muito com uma simples brincadeira de mímica.

Ser feliz não é uma condição, é uma opção. Muitos daqueles afásicos poderiam ter morrido por causa do AVC ou do acidente. Ao saírem vivos, se depararam com dois caminhos: 1) tornarem-se vítimas da própria condição e passarem o resto da vida cercados de tristeza, pessimismo, lamentações e infelicidade ou 2) serem felizes.

Os atletas medalístas das Pára-Olímpiadas sentiram uma felicidade que muitos de nós jamais saberá como é. O mesmo aconteceu com muitos artistas que driblaram suas limitações e se tornaram consagrados. A história está cheia de exemplos de pessoas com deficiência que alcançaram o reconhecimento e a felicidade.

Não ter problemas (seja lá que problema for) não faz ninguém mais feliz. Nem menos feliz.


Aqueles afásicos são mais felizes que muitos de nós.


...

Saiba mais sobre afasia:


Siglas:
CCA - Centro de Convivência de Afásicos
IEL - Instituto de Estudos da Linguagem


1 de maio de 2009

Eu sinto felicidade alheia


Já era pra eu ter publicado esse post há tempos. Mas eu estava meio sem tempo
meio atarefada
e com muita preguiça.

...

No dia em que minha professora de português da escola soube que eu passei na Unicamp, ela chorou.

Eu estudei a vida inteira em escola pública. Na porcaria-quase-inútil escola pública brasileira. Quando eu decidi que ia prestar vestibular, tive que me matar de estudar. Porque, pra quem estuda em escola pública, prestar vestibular de uma universidade pública não é um próximo passo certo. É uma decisão mesmo, porque você sabe que suas chances de passar são mínimas e para torná-las um pouco maiores (ou não tão pequenas) você precisa se esforçar muito. Eu passei 5 meses estudando. E só. Eu ia para escola de manhã, voltava, almoçava e ia para o cursinho. Chegava em casa às 19h, tomava banho, jantava e estudava até às 23h, pelo menos. No sábado, eu estudava. No domingo, eu estudava. Eu estudei em todos os feriados do segundo semestre de 2002, no dia do meu aniversário, na véspera de Natal e no Ano Novo eu estudei depois das 15h. Como resultado, ganhei uma doença que ninguém descobriu o que era e me deixou de cama por 5 dias. Na semana antes do vestibular. Eu fiquei tão ruim, que mal conseguia andar do quarto pra sala, era uma fraqueza enorme e a única coisa que eu fiz nesses dias foi ficar deitada no sofá. Lendo os livros da prova de literatura.

Mesmo tendo me esforçado e estudado muito, eu acreditava que não iria passar. Acho que metade das coisas que eu vi no cursinho, eu nunca tinha visto em toda a minha vida, nem fazia idéia do que era, tive que aprender do zero.

Não acreditei quando vi meu nome na lista de espera. E, depois da espera naquela terça-feira (era terça?), não acreditei quando vi meu nome na lista de matrícula da segunda chamada.

Em 2006 e 2007 eu dei aula na mesma escola pública que estudei, no período noturno. Dentre o grande números de imbecis-desinteressados-inúteis, tinha um aluno que também queria estudar na Unicamp. Ele era inteligente e dedicado e me doía vê-lo ali, no meio de tanta falta de possibilidades.

Uma semana depois do começo das aulas, enquanto eu esperava minha aula começar, eu o vi saindo de uma das salas do IEL. Eu tenho certeza que senti o mesmo que minha professora sentiu no dia em que ficou sabendo que eu passsei na Unicamp e chorou. Eu tenho certeza que pensei o mesmo que ela pensou e a fez chorar. Ainda bem que as pessoas ainda continuam quebrando aquele maldito círculo vicioso.

Eu dedico esse post a todos os bons professores que tive. Àqueles que me abriram os olhos. Àqueles que abriram mão do fim de semana para me dar aulas (de graça) nos dias quentes de novembro. Àqueles que me fizeram a acreditar em mim mesma. E as minhas amigas da escola que, assim como eu, penaram muito mas também conseguiram uma vaga na Unicamp (Kêy, boa sorte no mestrado. Layne, boa sorte no seu fim de curso). Que mais gente consiga romper o círculo.