25 de outubro de 2008

Poesia

Eu já li vários textos (livros, artigos, reportagens, etc) dos quais gostaria de ter sido a autora. Eu acho que muita gente já passou por isso. Você lê e pensa "Como alguém conseguiu escrever algo tão genial? ou tão bonito?".

Abaixo estão dois desses textos. O primeiro, é um trecho do artigo "A arte de dizer não dizendo", escrito po Braúlio Tavares e publicado na Revista Língua Portuguesa (ed. outubro). O segundo, é o poema "Poesia", de Carlos Drummond de Andrade, retirado do livro "Alguma poesia".

Cada um de nós tem sua maneira própria de dizer as coisas,
e também de dizer que não consegue dizê-las. Há momentos em que
a poesia é apenas um sentimento que nos toma de assalto, nos invade,
nos deixa cheios de emoções - e vazios de palavras. Talvez a gente
não consiga dizer o que sente; mas precisa dizer que não conseguiu.

Gastei uma hora pensando num verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

22 de outubro de 2008

A perna comprida da verdade


Eu semprei achei difícil contar uma mentira. Mais difícil ainda, manter uma. Sendo ela boa ou ruim, é difícil esconder de todo mundo uma verdade que anda com você, que está dentro de você. Porque é incrível o poder que a verdade escondida sob uma mentira tem de se infiltrar na sua cabeça e não sair de lá... e ficar martelando, martelando... “conte a verdade, conte pra todo mundo”.

Não é a mentira que tem perna curta, mas a verdade é que tem perna comprida. A mentira, se pudesse, se manteria para sempre. Mas a verdade... ela fica te cutucando, tentanto te convencer a botá-la pra fora.

Esses dias tenho escondido algo de quase todo mundo. Não chega a ser uma mentira, é mais uma omissão. Não pode ser uma mentira, porque não chegou aos ouvidos de ninguém. Não chega a ser uma mentira, porque nunca foi contada. É algo que simplesmente não contei para quase ninguém e que, portanto, não existe. E nem afeta a vida das outras pessoas.

E até por isso que não contei pra ninguém. Ninguém tem nada a ver com isso. Não quero que saibam. Mas, mesmo assim, essa não-mentira, essa coisa não contada, fica me martelando. Já me peguei várias vezes, quase contando, quase abrindo minha boca no meio de muita gente. Parece que essa coisa não contada quer sair e criar vida, mesmo que seja pra ser mentira.

Deve ser muito difícil contar uma mentira que precisa mesmo ser mantida. Para sempre. Penso nos criminosos inocentados. Isso não é um presente, mas uma tortura eterna. Eles precisam passar o resto da vida mantendo uma mentira, uma mentira que carrega o fardo da sua liberdade. Não há castigo pior que ter a verdade martelando na sua cabeça para o resto da vida.

5 de outubro de 2008

Uma caixa de ócio, por favor!

Eu sinto uma pena em deixar o blog assim, meio abandonado, quase sem atualizações. Porque eu gosto muito de escrever, muito mesmo. Se pudesse, escreveria aqui todos os dias, sempre tenho mil idéias na cabeça, muitas coisas pra contar. Mas estou sentido na pele as conseqüências da falta de tempo ocioso.

Durante as aulas de literatura da faculdade ouvi muitas (muitas!) vezes que o ócio é essencial na vida de um grande artista. Não que eu me considere uma artista, muito menos uma grande artista. Mas é impossível escrever sem ter tempo ocioso.

A grande maioria dos textos que aqui escrevi não saíram da minha cabeça em 5 minutos, assim, do nada. Para escrever muitos deles, passei dias pensando no assunto, escrevi, reescrevi, acrescentei uma parte, mudei o final.

É impossível fazer tudo isso quando você tem que trabalhar, estudar, fazer um trabalho de estatística, estudar francês, sair com as amigas, passar um tempo com família, ir no aniversário do fulano, visitar o sicrano. Quando vejo, já é domingo, 23h, estou morta de sono e sem um pingo de vontade de escrever. Sem sequer uma idéia na cabeça. Nem uma linha. Nem a letra inicial do próximo post.

É o tal ócio produtivo. É como se a sua criatividade aumentasse na mesma proporção que aumenta seu tempo ocioso. É por isso que grande artistas, sejam eles escritores, músicos, pintores, dançarinos; não podem trabalhar como a maioria de nós. O tempo ocioso é essencial para sua criatividade, seu talento, sua arte. Sem ócio, não há artistas.

Talvez, seja por isso que o Brasil é tão pobre de artistas de verdade. Num país como o nosso, no qual os jovens precisam trabalhar cada vez mais cedo para ajudar no sustento da família, onde praticamente não há incentivos para a cultura e patrocínio parece lenda, é muito difícil dedicar-se a arte. Pois arte exige dedicação.

Eu que não sou artista. Eu que não tenho tempo ocioso. Para escrever por aqui, precisei escolher entre escrever ou fazer o trabalho de estatística. Ainda bem que eu odeio estatística.