27 de abril de 2008

Um, dois, três

Ela sentia a tristeza de uma tarde de outono. Um daqueles dias cinzas, de ar pesado e muitas folhas mortas pelo caminho. Era assim que ela se sentia. Morta. Marrom e sem vida. E entendia porque há tantos suicídios nos países europeus. Como resistiriam a um ano repleto de dias em cinza e branco, como se o mundo ainda estivesse nos anos de cinema mudo e sem cor do começo do século passado?

Muda. Ela também não tinha voz. E mesmo que tivesse, sabia que de nada adiantaria gritar a sua raiva perante tanta mediocridade. De nada adiantaria. Ela não mudaria as coisas, que continuariam sendo como sempre foram. Não faria com que as pessoas deixassem de ser menos ... repugnantes.

Ela só queria fechar os olhos, contar até três e ver o mundo sumir. Não o mundo todo. Mas queria ver sumir as tantas coisas nojentas que vê todos os dias. Não agüentava mais relacionamentos baseados no interesse. Tanta falsidade e fingimento. Falta de respeito. Falta de educação. Falta. Ela sentia falta de coisas melhores e assim aprendia que era possível sentir falta daquilo que nunca se teve.

Da janela do quarto via a única árvore do quintal. Já não se viam mais árvores como antigamente. Também estavam em falta. Já quase não tinha folhas, mas... apertou o olho e viu algo diferente em meio a tanta falta de vida. Ainda havia ali uma folha, uma pobre coitada que teimava e não se rendia as leis da natureza. Teimava em não se deixar levar, em não cair. Ainda estava verde.

6 de abril de 2008

E a sua vida... o que é meu irmão?!

Enquanto eu lia um outro blog esses dias (tem o link aí do lado... é o I just want you know), eu lembrei de algo que aconteceu em uma festa e me chamou a atenção.

Como quase sempre acontece nas festas do campus (com exceção das festas do IEL, é claro!rs), era mais uma festa miada! beeeeeeem miada, diga-se de passagem! Lá estavamos nós, eu e mais uma amiga, numa festa animada pelo som de um carro, com meia dúzia de gatos pingados.

Depois de termos xingado até nossa última geração e de termos prometido que nunca mais iríamos numa festa do campus (coisa que a gente sempre promete, mas nunca cumpre), a festa começou a melhorar um pouco. Surgiu um DJ e, além dele, ainda tinhamos o som do carro, que estava bem legal. Mas a gente continuava reclamando!

Aí começaram a surgir partes de uma banda... bateria... guitarra... microfones... não era possível que iam montar uma banda aquela hora, já devia ser mais de meia-noite! Sim, era possível. Em festas no campus da Unicamp, tudo é possível...

Já eram umas 2h da madrugada quando a banda começou. No fundo, ficamos até com dó do pessoal... a festa estava tão miada, que boa parte das pessoas já tinham ido embora e a banda era boa, merecia um público. Eles começaram a tocar samba-rock.

Foi quando vimos um homem dançando muito animado. MUITO! Não era um aluno da Unicamp. Era o catador de latinhas da festa. Ele dançava tanto, parecia tão feliz! E foi aí que bateu a vergonha. Porque a gente passa o dia todo, vendo um momento de gente (grupo no qual nos incluímos) que tem tudo na vida, reclamando de TUDO, o tempo TODO!

E aí você vai em uma festa miada, chaaaaaaata e vê uma pessoa se divertindo tanto. Uma pessoa que, com toda certeza, não tem 10% do que nós temos. Uma pessoa para qual muita gente olha e pensa "esse aí, é um pobre coitado, não tem nada na vida, nasceu pra sofrer".

Mas a gente viu felicidade de verdade naquele homem!