29 de dezembro de 2007

Aprenda a fazer um ano melhor

RECEITA DE ANO NOVO
Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

28 de dezembro de 2007

Comunicado

A Aline tirou uns dias de férias e deixou seu eu-lírico no lugar. Essa é uma oportunidade de você colocar em prática aqueles conceitos que aprendeu na aula de literatura... você ainda se lembra do eu-lírico, certo?!

Qualquer semelhança dos dois últimos textos (e de alguns que ainda virão) com a realidade, terá sido mera coincidência.

Pra finalizar, Vinícius de Moraes.

“A vida é a arte do encontro
embora haja tanto desencontro pela vida”

26 de dezembro de 2007

As coisas... as coisas são assim

Ele voltou pra casa com o buquê de tulipas na mão. Tinham custado uma fortuna, mas eram as flores preferidas dela. Naquele jantar, precisava levar algo que realmente a agradecesse. Depois de tantos meses separados, esperava ansiosamente pelo reencontro, seria inesquecível. E foi.

Depois de algum tempo de relacionamento, você adivinha os pensamentos do outro só pelo seu olhar, pelo levantar de sobrancelhas. Ela chegou antes, o esperava na mesa do canto, batendo os dedos ansiosamente no prato sobre a mesa. Ele se aproximou e sentiu falta do cumprimento acalorado, do abraço demorado. Nem sequer um beijo, recebeu apenas um "Oi, que saudades". Antes mesmo que perguntasse o que havia acontecido, ela disse que não havia necessidade de pedir a comida, pois precisava falar logo o que tinha pra falar.

E foi assim, de sopetão, que ela contou que estava tudo acabado. As coisas são assim. Num dia qualquer, sem nada de especial, ela conheceu outro, se apaixonou e descobriu que esse, sim, era seu amor de verdade. Pelo menos ela o havia poupado do clichê "No coração não se manda".

Ela foi embora. Ficaram ele e o buquê de tulipas. Ficaram por horas. O restaurante fechava quando ele se deu conta do que havia ocorrido. Tinha sido trocado pelo cara que ela conheceu no ponto de ônibus.

Sempre pensou que num momento como esse teria uma raiva e uma coragem tão grande que iria atrás do cara, o mataria ou ao menos o daria uma bela surra. Mas a única coisa que teve foi uma crise de choro repentina. Chorou. Chorou como não chorava desde que tinha uns 5 anos.

Trancado no quarto desde que chegou, só resolveu sair quando, já quase na hora do almoço, ouviu a mãe gritar da sala que tinha visita pra ele. Abriu a porta e ela veio correndo. Era Ana, sua amiga de tempos que estava de volta depois dos 4 anos de faculdade. Ela lhe deu um abraço demorado e pegou uma das tulipas caída no chão.

25 de dezembro de 2007

Qual é a sua história de Natal?

Era quase véspera de Natal.

Ela foi ao centro da cidade para comprar os dois últimos presentes e também uma boneca para uma criança carente que, no dia anterior, tinha ficado sem presente na festa da Igreja. Voltava feliz por ter comprado uma daquelas bonecas que parecem um bebê, que ela tanto adorava quando era criança. Tinha comprado uma boneca bem grande, linda.

Na volta pra casa, enquanto esperava o ônibus, uma menina de uns 7 anos se aproximou, toda maltrapilho, suja e descabelada, pedindo dinheiro. Embora fosse um pouco contrária à essa história de dar dinheiro, deu R$2.

Já dentro do ônibus, avistou do outro lado da rua aquela menina, com o pai e mais 4 crianças, que deveriam ser seus irmãos. Dois estavam descalços e um deles era uma criança que não devia ter 2 anos. Uma menininha. Descalça. Naquela rua suja, no asfalto quente. Na quase véspera de Natal. Aquilo lhe cortou o coração.

E então ela percebeu que não importa quantas bonecas ela compre, ela simplesmente não vai mudar o mundo.

14 de dezembro de 2007

Por que será que é assim?


Eu fui ler meus posts e só então reparei que boa parte deles são depressivos... aí me lembrei também que boa parte dos posts dos meus amigos, em seus blogs, também são deprimentes ou tristes.

Por que será que é assim?

Por que será que quando a gente pára pra escrever, sai tanta tristeza... melancolia? Por que será que os blogs são todos meio assim... Baudelaire, meio fase ultra-romântica do Romantismo do século passado?

Por mais que eu queira escrever sobre algo legal.. animado... engraçado, não consigo. E eu nao costumo ser uma pessoa deprimente. Quem me conhece sabe que ao meu lado é muito mais fácil rir do que chorar (hehehe).

Aí pensei bem e vi que, no fundo, a gente só escreve quando tá triste, quando precisa desabafar, por algo pra fora, tirar aquela coisa entalada na garganta.

Quando a gente tá feliz, contente, pra cima... a gente vai passear, vai pra balada, sai com amigos... vai se divertir! Ninguém senta na frente do pc num momento de felicidade pra perder tempo escrevendo no blog, certo?!

Então é por isso que as coisas são assim... pelo menos eu acho que é isso.

O bom é que assim você descobre que todo mundo tem dias ou momentos de tristeza! Todo mundo tem dúvidas, angústias, insegurança, vontade de sumir do mundo, vontade de matar todo mundo, surtos depressivos!

TODO MUNDO!

Tem até gente surtada o suficiente pra postar dois textos no mesmo dia...
Vai entender...

=)

Você tem medo do quê?


Não sei como você se sente em relação a isso, mas me dá medo... quase sempre me dá medo envelhecer.

Os dias vão passando assim, um a um, a gente quase não percebe... vai um dia, outro e mais outro e mais outro... e quando você vê, milhares de dias já se passaram e, junto deles, tudo aquilo que você viveu. Parece que tudo foi tão recente, mas quando você pára pra pensar... Já fazem 11 anos que você parou de brincar de boneca. A sua formatura do 3º ano (aquela, que você rezou tanto pra chegar) foi há 5 anos atrás. Já fazem 5 anos que você estava estudando pro vestibular. Já fazem 5 anos que você passou no vestibular. Você já até terminou a faculdade. Há 1 ano!


Não parece que tudo isso foi ontem?


Eu ainda me lembro do dia em que fiquei até as 22h brincando de Barbie com a minha prima e a minha irmã. Eu tinha uma Barbie loira e um trailer cor-de-rosa. Ainda me lembro das “aventuras” da escola, das brigas, das confraternizações de fim de ano. Me lembro do discurso de despedida lido na colação do 3º ano, da festa, das desilusões. Me lembro das noites e dos fins de semana que passei estudando pro vestibular, me lembro de como chorei (de alívio ou desespero, sabe-se lá) depois do 4º dia de prova da segunda fase. Me lembro da tristeza que dá ver o nome na lista de espera. Espera. Me lembro da espera naquela segunda-feira (era segunda?)... eu, meu pai, aquele monte de gente e um pseudo-ator fazendo a gente rir (ainda bem que existem pessoas que fazem a gente rir – de graça – em momentos assim). Me lembro de ver meu nome ali, nos aprovados. Mais espera, fila, papelada, tinta na cara. Me lembro do confuso primeiro semestre, das conversas na arcádia, de todos aqueles livros, de todos aqueles xerox, do Saussure, da primeira festa universitária.


E quando vi, lá estava eu ... na formatura da faculdade!!!

Quando você vê, já está trabalhando, já tem vida de gente grande.


Sua priminha mais nova já tem 14 anos. Seus primos estão noivos. Várias amigas suas já se casaram. E você agradece por não ter sido convidada pra ser madrinha de nenhuma delas, porque isso seria assinar seu atestado de adultice. Não que eu queria ser Peter Pan, mas às vezes dá medo que o tempo passe rápido demais, tão rápido, que não dê tempo de fazer tudo que eu queira fazer.

Por isso, eu acho que aprendi a sempre arrumar um jeito de fazer as coisas que quero, mesmo que isso me dê algum probleminha ou me atrapalhe de alguma forma. É que vale a pena se sacrificar um pouco pra ser um pouco mais feliz. Porque quando o tempo passar de verdade... quando eu estiver velhinha, com cabelos brancos, a pele enrugadinha, andando devagar, talvez nem ouvindo tão bem... talvez meia lé-lé... Eu quero olhar para trás e sentir saudades ... e não arrependimento por não ter sido feliz. Nem um pouco.

5 de dezembro de 2007

Lembre-se você também


Às vezes eu acordo assim
meio desanimada... com vontade de nada

Mas aí eu me lembro dos dias de sol
das férias
da praia
de correr na areia com meu pai até fazer um caminho fundo
de quando eu era criança e abria os presentes na manhã de Natal
de brincar de Barbie até as 22h
da minha vó contando seus ditados
do meu vô rindo daquilo que ele nem entende
das brincadeiras na rua
de todo mundo na piscina de plástico de 1000L no churrasco de domingo
das aventuras no terreno baldio
de atormentar os professores
de fazer nada e me divetir muito com meus primos
das gincanas na escola
dos dias de chuva sem aula
das festas surpresas
da 6ª série C
do brigadeiro de colher na casa das amigas
de risada de criança
de quando a minha calça nova me serviu de novo
de festa de formatura
de batatinha de casamento
do meu cabelo quando fica como eu quero
dos elogios recebidos
dos 10 nas provas
da aprovaçao no vestibular
das festas da facul
da arrumação pras Festas Bregas
das conversas no MSN
de todos livros bons que eu já li
das baladas
da Lulu
das viagens
dos ENEJs
dos comentários pós-festas até de madrugada


e aí...

aaaaaaaaah...
me dá vontade de TUDO!