15 de outubro de 2017

Resenha do livro "Na minha pele"

Ontem terminei de ler o livro Na minha pele, de Lázaro Ramos, uma autobiografia. O livro é escrito em tom de conversa, numa tentativa de falar sobre racismo de uma maneira leve e mais amigável. Você se sente como se tivesse chegado à casa de Lázaro, ele tivesse puxado uma cadeira, te olhado nos olhos e falado: senta aqui, vamos conversar sobre o que é ser negro no Brasil. A conversa poderia ser leve, mas nunca será. É com muitos engasgos, apertos e socos no estômago que essa conversa continua.

A partir de suas experiências particulares, Lázaro Ramos fala sobre como o racismo é sistemático e, por isso, apagado em nosso país. Como ele está em todo lugar, desde sempre, passa despercebido por nós, brancos, porém nunca é invisível a quem é negro. Ao narrar episódios de sua vida, como a experiência de ser o único negro em uma escola particular de Salvador ou ser galã de uma novela da rede Globo, o ator, agora escritor, fala sobre a falsa democracia racial, sobre a violência sistemática contra a negritude, sobre a falta de representatividade, sobre nossa incapacidade de ver beleza nos traços negros, sobre a solidão dos negros - sobretudo das negras - em um mundo onde só brancos parecem ter nascido para serem amados.

Como ator bem sucedido e rico, Lázaro Ramos tenta o tempo todo desconstruir a imagem de negro que lutou e venceu (à qual pode ser facilmente, e erradamente, associado), porque não quer ser exemplo de como vencer é possível para todos, porque sabe que não é. Ele tenta, a cada capítulo, mostrar como sua vida é uma exceção, sobretudo porque teve uma família privilegiada, forte, que sempre o apoiou; porque cresceu numa comunidade negra empoderada e teve apoio de outros negros, de grupos de teatros e ONGs de Salvador. Seu esforço é nos mostrar que para cada negro morando em mansão e jantando em restaurantes chiques como ele, há centenas, talvez milhares, de outros negros morando em condições miseráveis.

O ponto do livro que me chamou muito atenção, não por acaso, pois sou mulher; foi quando Lázaro fala de Taís Araújo, entretanto deixa claro que não não falará por ela. Ao falar da esposa, ele reconhece a força desta que enfrenta a opressão dupla de ser mulher e negra, reconhece também que suas dores de negro não o impedem de causar dores às mulheres e que, inclusive, precisa se esforçar diariamente pra criar um novo exemplo de masculinidade e de masculinidade negra - sempre tão ligada à força e à violência - sendo exemplo de homem para o filho. Ele sabe que o respeito com o qual trata sua mulher é essencial para a formação desse filho, mas, principalmente, para a construção da autoestima da filha, que deve crescer e não aceitar nada menos que esse mesmo relacionamento baseado na igualdade e no respeito.

Eu tenho lido muito sobre feminismo negro ultimamente, sigo perfis de feministas negras no Facebook, sigo canais no Instagram, por isso muito do que li nesse livro não era novo pra mim, já estava a par de boa parte dessas discussões e já tinha me questionado sobre algumas das reflexões que Lázaro Ramos fez. Entretanto, Na minha pele é, com certeza, um livro muito importante pro Brasil hoje, especialmente se considerarmos que há poucas figuras públicas negras importantes no país e as poucas existentes, quase sempre, estão mais dispostas a negar sua condição de negro e sua representatividade do que usá-la como ferramenta política - quem não se lembra de Neymar falando que não é negro e que nunca sofreu preconceito?!

É preciso coragem para escrever um livro como esse, em um momento de tanto menosprezo à luta dos negros, é preciso coragem pra se expor, contar histórias de dor, colocar o dedo em nossa cara pra nos fazer entender que, sim, somos todos racistas e precisamos ter consciência disso, e mudar urgentemente.

A dúvida que me resta, ao finalizar o livro, é quantas pessoas ele irá atingir. Em um país em que revistas com mulheres negras na capa não atingem nem 50% das vendas daquelas com mulheres brancas; quantos de nós estão dispostos a comprar esse livro, com um negro na capa, escrito por um negro, falando sobre negros? A existência desse livro na prateleira de uma livraria já é, por si só, um constrangimento para quem é branco, é aquele dedo na cara do qual tanto precisamos.



Na minha pele
Autor: Lázaro Ramos
Editora: Companhia das letras
Ano: 2017
Páginas: 152






25 de julho de 2017

#LeiaMulheres e resenha do livro "Niketche - uma história de poligamia"

Antes de falar sobre o livro Niketche – uma história de poligamia, de Paulina Chiziane, vou falar sobre como esse livro chegou até mim. Eu sigo o perfil Leia Mulheres (clube de leitura que pretende incentivar a leitura de obras escritas por mulheres) no instagram e já tinha visto uma indicação desse livro no perfil, ele também foi discutido em vários clubes de leitura pelo Brasil e eu achava muito estranho que um livro sobre poligamia fosse tão adorado por esses clubes de leitura que, em sua maioria, têm um cunho feminista. Eu também já tinha ouvido falar muito bem da sua autora, Paulina Chiziane, mas ainda tinha um pé atrás com o livro e duvidava que fosse gostar de lê-lo.

Em abril deste ano, participei da Flipoços 2017. Nesta edição da feira, o país homenageado foi Moçambique e o evento contou com a presença de vários autores moçambicanos, dentre eles uma única escritora moçambicana: a Paulina Chiziane. No dia 29 de abril, fomos para o evento para assistir à cerimônia de abertura. Achamos que fosse ser algo extremamente burocrático, mas, para nossa surpresa, não foi. Todos homenageados tiveram a oportunidade de discursar e foi, então, que conhecemos Paulina Chiziane. Que mulher incrível. Sua fala foi tão intensa que nos conquistou nas primeiras palavras. Sincera, sensível e certeira, Paulina falou sobre a importância dos moçambicanos, escravizados pelos portugueses, na construção do Brasil, falou sobre racismo, falou sobre dor. Apaixonamo-nos por ela e tivemos a certeza de que, sim, valeria a pena ler seu livro.

Comprei o livro no dia seguinte e depois ler os dois primeiros capítulos, já tinha certeza que aquela era uma história que eu precisava ler. Então, vamos a ela.

Em Niketche – uma história de poligamia, a narradora conta sua própria história: é uma mulher de meia-idade, com 5 filhos e casada, porém, sozinha. Seu marido passa dias e dias fora de casa e ela desconfia que ele tenha alguma amante. Depois de um episódio envolvendo um dos seus filhos, ela decide ir atrás de informações que provem que sua desconfiança é real. Descobre, então, que seu marido não apenas tem amantes, mas é um polígamo: ele tem outras mulheres, com as quais construiu casas e teve filhos.

Até aqui, nada de novo nem de muito espetacular. Mas esse é apenas o início da história. O problema é que não posso falar muito sobre o livro sem dar spoilers, porque a narrativa é repleta de reviravoltas, daquelas que tiram o fôlego do leitor e mudam completamente o rumo da história. Já que não posso falar muito sobre o enredo, falarei sobre alguns aspectos do livro que chamaram minha atenção.

O primeiro é a linguagem. Há tempos não lia um livro tão poético. Repleto de metáforas, sensações e sentimentos, nada no livro é dito de maneira objetiva, cabe ao leitor não apenas entender as palavras – meticulosamente escolhidas e trabalhadas por Paulina -, mas senti-las, vivê-las. É incrível como a autora consegue manter a poesia intensa do início ao fim do livro e talvez, sem ela, seria difícil continuar a leitura de cada página, pois o livro é daqueles que nos fazem sentir uma facada no estômago.

Nesta obra de Chiziane, há sempre uma fala, uma reflexão, que nos atinge em cheio. O enredo em si já é bem tenso, para uma mulher jamais será fácil ler a história de mulheres submetidas à poligamia. Como se isso já não bastasse, somos apresentados, página a página, aos costumes e à cultura de Moçambique, muitas vezes extremamente misóginos. Ao longo da história, vimos mulheres serem submetidas a violência, humilhações e constrangimentos de diversos tipos. A existência das mulheres do livro é marcada pela submissão e pelo sofrimento.

No entanto, felizmente, nem tudo são dores. Se tivesse que resumir o livro em uma palavra, seria sororidade. Paulina nos ajuda a entender que se apenas uma mulher conhece as dores do que é ser mulher, apenas uma mulher é capaz de verdadeira ajudar uma outra mulher. E é esse o papel da personagem principal e também narradora. Não quero dar informações demais aqui, mas preciso dizer que uma das maiores potências desse livro é mostrar que a união entre as mulheres é capaz de construir a força necessária não só para tirá-las de relacionamentos abusivos, mas para permitir que elas consigam ser protagonistas de suas próprias vidas e consigam viver para atender aos seus próprios desejos.

Aqui, entro no quarto tema que me chamou muito a atenção. Em Nikecthe, Paulina fala de maneira direta e sem tabus sobre a sexualidade feminina, tantas vezes negada e condenada. As mulheres do livro querem ser mais do que esposas que cuidam do marido, da casa e dos filhos; elas querem ter o direito de viver sua sexualidade de maneira plena, inclusive e principalmente após os 40-50 anos. A luta por esse direito é um dos motivos que levam ao desfecho da história – sobre o qual eu, obviamente, não falarei,

Niketche – uma história de poligamia é um livro que merece ser lido principalmente por quem quer conhecer mais sobre a cultura moçambicana e sobre os relacionamentos polígamos - e, claro, por todas nós, mulheres, que encontraremos nesse livro um pouco mais de força para lutarmos por nossa liberdade, inclusive sexual.

Quem quiser ver o discurso da Paulina Chiziane na abertura da Flipoços, basta clicar nesse link. O discurso começa em 19’14”.



Niketche - uma história de poligamia
Autora: Paulina Chiziane
Editora: Companhia das letras
Ano: 2004
Nº de Páginas:  336

6 de abril de 2017

youtubers: vocês não são professores de língua portuguesa.


Há um ano, uma youtuber começou a produzir vídeos "ensinando" língua portuguesa. Coloco entre aspas porque o que ela faz é, na verdade, um grande desserviço ao português e à educação. Imbuída de muito preconceito e com total desconhecimento sobre a linguagem e sobre o ensino de língua portuguesa, ela faz vídeos extremamente grosseiros, nos quais chama pessoas que supostamente falam "português errado" de burras.

Na época, eu postei um texto sobre isso no meu facebook e aproveito para republicá-lo logo abaixo, porque esses vídeo feitos por ela continuam circulando e continuam tendo cada vez mais visualizações. Deixo também o link de um vídeo que uma colega de profissão fez sobre o assunto

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Deixa eu falar uma coisa: tem uma moça ficando famosinha por causa de vídeos "ensinando" língua portuguesa. Alguns vídeos tem mais de 2 milhões de visualizações aqui no Facebook - fiquei bem chocada quando vi isso. Por favor, não compartilhem esses vídeos, eles são horríveis.

A maneira como ela fala é extremamente grosseira, se eu ensinasse português assim para os meus alunos já teria sido demitida. Não se deve gritar com quem está aprendendo e não se chama ninguém de burro, mesmo que ele fale "tudo errado". 

Aliás, o fato dela achar que existe erro mostra seu total desconhecimento sobre a língua portuguesa e seu funcionamento. Qualquer pessoa com boa formação na área sabe que não existe erro, mas variação linguística. Pessoas de classes mais baixas, por exemplo, falam uma variação de português que diverge da norma padrão, mas isso não as faz burras. 

Ninguém é burro, aliás, importante deixar isso claro também. Achar que você é mais inteligente só porque  detém um conhecimento que outra pessoa desconhece não faz de você mais inteligente, só te faz mais preconceituoso. 

Também acho importante começarmos a reavaliar o que é engraçado, o que é humor. Até quando vamos achar engraçado alguém que grita, xinga e ofende os outros? Um bom vídeo de humor sobre o assunto deveria nos fazer rir da gramática (e de suas regras muitas vezes sem sentido) e não das pessoas que falam comprimento ao invés de cumprimento, as quais provavelmente nem tiveram acesso a uma educação de qualidade. Qual é a graça nisso?

Enfim, se você tem alguma dúvida sobre a língua portuguesa, pergunte a um professor de português ou procure vídeos feitos por pessoas realmente competentes e responsáveis com a educação. A gente precisa parar de dar atenção e visualização para pessoas incompetentes que só querem confete. Já passou da hora de sermos mais inteligentes e críticos ao usar a internet.


Link para o vídeo feito pela Mariana Musa.
https://www.facebook.com/musamariana/posts/10212561560259953

16 de março de 2017

#LeiaMulheres e resenha do livro "Presos que menstruam"


Ano passado, eu me juntei ao movimento Leia Mais Mulheres (que depois virou Leia Mulheres). Basicamente, esse movimento tem o objetivo de incentivar a leitura de livros escritos por mulheres e, para isso, lançou em 2016 um desafio com 10 livros a serem lidos ao longo do ano. Participar do desafio e começar a ler mulheres foi um incentivo imenso para que eu redescobrisse esse prazer que sempre tive, mas que havia deixado de lado pelo cansaço da vida de trabalhadora: a leitura. Deixo, abaixo, a lista dos livros que li para o desafio e você pode conseguir mais informações sobre o Leia Mulheres aqui.


Agora, 2017, decidi me colocar um novo desafio: escrever resenhas sobre as minhas leituras. Essa seria uma forma de organizar as leituras que faço, guardar um registro sobre elas e também, quem sabe, convencer outras pessoas a lerem os livros que li.

Para esse desafio, escolhi começar pela minha última leitura: Presos que menstruam, de Nana Queiroz. A Nana é jornalista e uma das fundadoras da revista feminista AzMina. Também foi ela quem começou a campanha Não mereço ser estuprada.

A ideia de escrever esse livro-reportagem sobre a vida das mulheres encarceradas do Brasil surgiu não somente do seu interesse pelo assunto, mas também por perceber que quase não há livros ou pesquisas que abordem o tema no país. Já na academia e no jornalismo, a vida dessas mulheres é silenciada, como se não houvesse presas no Brasil.

Ao longo de 4 anos, Nana visitou presídios por todo o país, conversou com muitas mulheres encarceradas, algumas já em liberdade, outras conhecidas nacionalmente pelo crime que cometeram (como matar os próprios pais, fica aí um spoiler). Decidiu narrar a vida dessas mulheres como se cada história fosse um retalho, cada retalho sendo pouco a pouco costurado, para construir essa colcha que é seu livro.

Presos que menstruam é uma leitura ao mesmo tempo agradável e angustiante. Agradável, pois Nana escreve muito bem, a leitura flui com uma facilidade tão grande que, muitas vezes, não parece que estamos lendo, mas sim sentadas ao lado de Nana, conversando com ela e com as mulheres que protagonizam as histórias narradas. Angustiante, pois... aquelas histórias são reais, e são difíceis, difíceis demais. O livro comprova algo que já sabemos: a desigualdade social é ponto central que une boa parte dos encarcerados do país. Não somente ela, mas tudo aquilo que vem junto com a pobreza: a falta de estudo e de oportunidades, péssimas condições de vida, famílias conturbadas, violências e, no caso das mulheres, gravidez na adolescência, casamentos cedo demais.

Se a literatura tem como um de seus fundamentos a humanização de tipos sociais, esse livro faz isso com primazia. É impossível não sentir empatia por aquelas mulheres, não se colocar no lugar delas ou de seus filhos, não sofrer com elas as injustiças que as levaram até os presídios brasileiros. O livro nos coloca tão próximo daquelas mulheres que não há como não pensar que poderíamos ser nós, ali, presas em algum desses presídios.

Outra questão abordada por Nana é o fato dos direitos das mulheres e da sua singularidade não serem respeitados também nos presídios: a maioria dos presídios brasileiros não foram pensados para abrigar mulheres. Não há espaço adequado para acolher as mulheres grávidas nem seus filhos quando nascem. Em questões de higiene, são desconsideradas diferenças muitos simples – e bem óbvias - como o fato de mulheres usarem absorvente e gastarem mais papel higiênico do que os homens.

No livro, também ganha destaque um outro problema: o abandono das mulheres. Enquanto as portas dos presídios masculinos vivem lotadas de mães, esposas, namoradas, irmãs, todas ansiosas pelo momento da visita e para rever o homem amado; nos presídios femininos só há solidão. A maioria das mulheres encarceradas não recebem visitas, muitas delas descobrem, quando são libertas, que seus maridos já as trocaram por outra. É o machismo atuando em cada uma das frestas da sociedade brasileira.

Bem perto do final do livro, quando já fomos convencidas pelas histórias contadas pelas mulheres e escritas por Nana, somos colocadas diante de um dilema, vivido e sofrido também pela autora: será mesmo possível acreditar nas histórias contadas pelas mulheres encarceradas? Seria possível confiar e acreditar no relato de mulheres que haviam cometido crimes; algumas, assassinatos?

Nana decidiu pesquisar o processo de algumas dessas mulheres e descobriu, então, que havia incoerências. Alguns retalhos estavam rasgados ou não se encaixam. Teriam as presas mentido ou apenas acreditado demais na mentira que contavam, na verdade, para si próprias? Diante da inquietação da autora e de sua desconfiança, passamos também a desconfiar daquela que fez a história chegar até nós: Nana teria sido fiel aos relatos que ouviu? Teria sido capaz de reconstruir histórias que, impedida de gravar ou fazer anotações, memorizou de cabeça?

Essas indagações podem perturbar o leitor, mas, jamais invalidar a relevância de Presos que menstruam: mais importante que a veracidade das histórias narradas são as reflexões que elas causam em que as lê.



Presos que Menstruam
Autora: Nana Queiroz
Editora: Record
Ano: 2015
Nº de Páginas:  294







Meu desafio Leia Mais Mulheres 2016

1. Poesia: A teus pés, Ana Cristina César 
2. Literatura infantil: Frida Kahlo, Coleção antiprincesas 
3. Não-ficção: Eu sou Malala, Christina Lamb et Malala Yousafzai 
4. Ganhadora do Jabuti: Quarenta dias, Maria Valéria Rezende 
5. Ganhadora do Nobel: Amada, Toni Morison
6. HQ: Persépolis, Marjane Satrapi
7. Autora independente: Toureando o diabo, Clara Averbuck. (Esse foi o único que não li, pois não consegui comprar o livro)
8. Autora latina: A última névoa, Maria Luisa Bombal
9. Autora negra: Americanah, Chimamanda N. Adichie
10. Autora contemporânea: Paraíso, Tatiana Salem Lévy 
11. Autora conterrânea: A obscena senhora D, Hilda Hilst 
12. Autora estreante: Desesterro, Sheyla Smanioto
*E ainda inventamos a 13ª categoria: livro de ficção científica: A mão esquerda da escuridão, Úrsula K. Le Guin



16 de maio de 2015

Guia de viagem - Algumas dicas de compras em Paris


Onde comprar o melhor macaron? Onde achar livros baratos? Qual é a melhor farmácia para comprar democosméticos das marcas francesas? Veja essas dicas abaixo:

O melhor macaron
Pra quem não conhece, o macaron é um doce francês feito de farinha de amêndoas e são vendidos em qualquer “padaria” de lá. Porém, o mais gostoso de todos é o da Ladurée. É o mais caro também, mas eu comprei macarons em vários lugares (até mesmo na Pierre Hermé) e nenhum se compara aos da Ladurée: ele derrete na boca! O chocolate quente de lá também é ótimo.
São oitos endereços em Paris, é só entrar no site e descobrir o mais perto de você.




Livros baratos e coisas de papelaria
Embora a FNAC seja a livraria francesa mais famosa do mundo, ela não é a melhor livraria de Paris, esse posto fica com a Gilbert Jeune (ou Gilbert Joseph). 
A Gibert Jeune da praça Saint Michel foi fundada por Joseph Gibert em 1886 (!!!!). Depois o filho mais velho dele fundou a Gibert Joseph. 
Nessa duas livrarias há venda de livros usados por preço muito baixo (tipo, 1 euros!!) e eles também dão um super desconto em livros com algum defeito, são os chamados “Occasion” – os livros com esse desconto vão ter uma etiqueta laranja escrita “Occasion”. Eu comprei vários livros de occasion, paguei 2 ou 3 euros por eles e o defeito era coisa pouca, como capa amassada, folhas manchadas, mas estavam em ótimo estado.
Além disso, os itens de papelaria deles são incríveis, muitas latinhas lindas, cadernos fofos, chaveiros geeks e comprei uma caneta Bic dourada.

As livrarias da Gibert Jeune ficam ao redor da praça St. Michel (elas são divididas por tema, na fachada está escrito quais temas você vai encontrar lá dentro) e também há uma filial na Boulevard Saint-Dennis. As livrarias da Gibert Joseph ficam mais espalhadas pela cidade, veja endereços no site.

Um adendo: a região da praça Saint-Michel é um dos meus lugares preferidos em Paris, fica a beira do Sena e se você andar até o meio da ponte que começa em frente à praça, verá a igreja Notre-Dame do seu lado direito e a torre Eiffel do seu lado esquerdo.



Cosméticos das marcas francesas Avène, La Roche-Posay, Roc...
Você encontra essas marcas de dermocosméticos em qualquer farmácia e supermercado de Paris, porém a farmácia com o melhor/menor preço é a Citypharma. A diferença de preço chega a ser de 5 euros. Comprei vários produtos da Avène, da linha para pele oleosa Cleanance, e gostei muito, todos produtos que comprei custaram entre 8 e 12 euros. É bem fácil achar a farmácia: ela fica em uma esquina e vai ter muita gente na frente, dentro, na escada rs.

Citypharma
26 rue du Four, 75006


Roupas térmicas
Todo mundo sabe que o melhor lugar para comprar roupas térmicas é na Decathlon, mas pouca gente sabe que essa loja é francesa e, por isso, as coisas são muito mais baratas lá. Então, se você vai para a França no inverno, não precisa comprar muita coisa no Brasil, deixe para comprar roupas térmicas, meias e luvas quando estiver lá.


Souvernis
Esse assunto me deixa um pouco deprimida, porque as lojinhas de souvernis estão espalhadas por toda a cidade, perto dos pontos turísticos então, há uma infestação de lojas de souvernis. Digo que isso me deixa deprimida, porque essas lojas acabam tirando um pouco da beleza de Paris.
Eu gosto muito das lojas que tem em Montmarte, perto da place du Tertre, comprei umas coisas bem diferentes numa loja lá – porque não gosto muito de dar presentes com cara de lembrancinha, escrito “Estive em Paris e lembrei de você”.
Uma outra dica é: não compre as mini-torres dos vendedores que ficam nas ruas. Elas são super baratas, porém sem qualidade nenhuma: eu dei uma pra minha mãe e, em menos de 1 mês, ela já tinha quebrado. Por isso, se você não quiser passar vergonha dando um presente que quebra em 1 mês, recomendo comprar as mini-torres que são vendidas nas lojas de souvernirs.


Malas de viagens
Bom, se você é daquelas pessoas que quase estoura a mala com as compras de viagens, talvez essa dica te ajude. Se você precisar comprar uma mala de viagem para levar compras e presentes, vá até a região da Gare du Nord ou da Gare de l’Est, pois lá há várias lojas que vendem malas bem baratas. Eu comprei uma mala de mão por 25 euros na Boutique Rayon d’Or – isso porque escolhi uma mala melhorzinha, pois tinham malas mais baratas.




23 de abril de 2015

A greve continua

Não sou professora das escolas da rede pública do estado de São Paulo, mas estudei a minha vida inteira em uma delas, vi e vivi, por muitos anos, o total abandono das escolas estaduais do estado. Por esse motivo, na última sexta-feira dia 17 de abril, juntei-me aos professores em greve na manifestação que começou no vão do Masp, na avenida Paulista, e percorreu algumas ruas da cidade de São Paulo até a Praça da República, onde se encontra a Secretaria de Educação do Estado.

Às 12h20 da sexta-feira, encontrei alguns professores de Hortolândia que aguardavam o ônibus que nos levaria até São Paulo. Quando entrei no ônibus, sentei-me e um professor de português sentou-se ao meu lado. Fomos conversando, fiz várias perguntas para entender melhor a atual realidade das escolas públicas paulistas – afinal, já faz 13 anos que me formei no Ensino Médio e, nesses anos, imagino que muita coisa deve ter mudado. E mudou mesmo: para pior. Mas não foi isso que me chamou a atenção na nossa conversa. Ao longo do caminho até SP, esse professor foi me contando um pouco do seu trabalho, para mostrar que apesar de todas adversidades, ele se esforça para dar a melhor aula para seus alunos. Falou-me do seu projeto sobre fotojornalismo, quando trabalhou com os alunos a narrativa construída por imagens, a produção de legendas e a análise sintática; além de discutir temas importantes, como a diversidade religiosa. Depois me contou também sobre as aulas de intertextualidade, construídas a partir do vídeo da “Galinha preta pintadinha”. Ele me contava tudo com tanto entusiasmo, que fiquei com vontade de assistir a suas aulas. Fiquei pensando que ele e tantos outros professores tão competentes e empenhados merecem ser tratados com muito mais respeito e dignidade, eles não merecem as migalhas dadas pelo governo estadual.

Enquanto conversávamos, alguém passou dando lanche e refrigerante para todos nos ônibus – era Itubaína. Aquilo salvou minha tarde, já que eu não tinha tido tempo de almoçar antes de sair de casa. Logo depois, uma professora do comando de greve deu algumas informações, falando sobre a atual situação das reivindicações. Falou que a greve continuava crescendo e que o número de professores parados estava perto de 70% - apesar do governador Geraldo Alckmin insistir em dizer que apenas 6% dos professores aderiram à greve. Falou também sobre a invasão da Assembléia dos Deputados, na quarta-feira anterior, e sobre seu resultado positivo: tinham conseguido uma reunião com o secretário da Educação, que aconteceria às 11h do dia 23/04. Estavam todos esperançosos de que alguma negociação favorável fosse feita nessa reunião.

Por volta das 14h, chegamos em SP. Descemos em frente ao MASP, não tinha muita gente lá. Eu devo ter feito uma cara um pouco pessimista, porque o professor ao meu lado – um amigo que me arrumou uma vaga nesse ônibus para SP - me disse:

- Não se preocupe. No dia da primeira manifestação, chegamos aqui e também não tinha quase ninguém, mas o pessoal vai chegar. Quando estiver perto da hora de sairmos em caminhada, esta avenida estará cheia.

Fomos para o vão do MASP. Havia três “trios elétricos” parados na rua e muitos professores discursando em cima de um deles. Muitos professores carregavam faixas e cartazes. Havia profissionais de todas as idades: desde professores muitos novos, que com certeza mal saíram da faculdade, até professores já velhos de estrada. Lembro-me bem de duas senhorinhas japonesas, bem velhinhas. Uma delas segurava um cartaz com algumas informações sobre o baixo salário pago aos professores. A outra apenas observava tudo que acontecia ali. Parecia desacreditada de ter que sair de sua casa, em 2015, para lutar por um direito tão óbvio e essencial: educação gratuita e de qualidade para todos.

Por volta das 15h, começou a Assembleia e muitos dirigentes das regionais do sindicato dos professores foram convidados a discursar e propor suas pautas para votação. Foi no meio desses discursos, que a tropa de choque da Polícia Militar chegou e os policiais cercaram aquele espaço. Um pouco depois, alguns deles começaram a subir nos caminhões de som, numa tentativa clara de assédio moral. A presidente da Apeoesp, que falava na hora, pediu educadamente que eles se retirassem, pois não havia motivo para policiais de choque intervirem na manifestação, que era pacífica e organizada. Eles desceram. Mas minutos depois, posicionaram-se em frente aos carros, ainda mais próximos dos professores e dos estudantes que estavam ali. Mais uma vez, foram convidados a se retirar.

Estudantes. Talvez essa seja a maior diferença entre a atual greve dos professores e as anteriores: pela primeira vez, os estudantes entenderam que a greve também é um problema deles – aliás, eles são os principais prejudicados dessa história toda – e estão apoiando massivamente os professores. Havia muitos, muitos jovens estudantes ali. Não pude deixar de notar, claro, que a maioria deles era afrodescendente. Na minha frente, tinha um grupo deles. Enquanto os dirigentes discursavam – e o discurso já se prolongava há algum tempo – alguns garotos foram até o final do vão do MASP e pegaram muitas bexigas brancas que estavam sendo distribuídas, com o símbolo da Apeosp. Juntaram várias bexigas, formando grandes balões de bexigas, e começaram a brincar com elas. Um tentando roubar a bexiga do outro. Um desses grandes balões se soltou e subiu até o teto – na verdade até o piso – do MASP. Eu tirei uma foto. Nessa hora, a única coisa que consegui pensar é que são esses os jovens que a sociedade está querendo colocar atrás das grades, aos 16 anos: grandes marginais terríveis que brincam com bexigas brancas. Eles eram negros. De altíssima periculosidade.

Finalmente chegou a hora da votação, confesso que eu mesma já tinha começado a viajar e não conseguia mais prestar atenção no que estava sendo discutido. A votação foi rápida e, por volta das 16h30, começamos a nossa caminhada rumo à Praça da República, passando pela avenida 23 de março.  Enquanto os caminhões de som manobravam, nós atravessamos a rua e ficamos esperando a passeata passar por nós, para seguirmos atrás. Na linha de frente, estavam carros da Polícia Militar. Reparei que a maioria dos policiais eram negros. Teriam eles tido aulas com os professores que agora estavam naquela manifestação? Logo atrás vinha o primeiro caminhão de som e, à frente da passeata, estavam eles: um grupo de jovens estudantes carregando uma faixa que dizia: “O professor é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”. Olhamos para a avenida e ela estava tomada pelos professores e apoiadores da manifestação. Ver tanta gente sendo conduzida pelos estudantes foi um daqueles momentos em que restauramos um pouco da nossa fé na humanidade.

Começamos a andar e também começamos a petiscar bolachas e salgadinhos.

- A caminhada vai ser longa, bem longa. – disse meu amigo.

Caminhamos pela Paulista e não se via ninguém nas janelas dos prédios e poucos eram aqueles que paravam para registrar a manifestação com seus celulares ou demonstrar algum apoio ao que estava acontecendo ali. Se gritássemos “Vem pra rua”, parece que ninguém mais, além de nós mesmos, desceria para a avenida. Caminhamos um pouco e descemos a avenida Brigadeiro. Nesse ponto, a passeata começou a atrapalhar mais o trânsito, algumas ruas estavam fechadas e os ônibus tiveram que parar e esperar nossa passagem. Mas embora o incômodo fosse grande, não vi ninguém demonstrando qualquer sentimento contrário à manifestação. Ninguém xingava ou reclamava. Dentro dos ônibus, os muitos trabalhadores, que tentavam voltar para casa, apenas nos olhavam, alguns acenavam. Foi nessa rua que percebi à nossa frente um professor. Negro, sozinho. Incansável, ele balançava uma bandeira com o símbolo da Apeoesp. Às vezes, em meio aos discursos e gritos de guerra vindos dos caminhões de som, ouvia-se ao fundo um “Vai Curíntia” que saía de sua boca. Em um desses momentos, uma senhora que passava pela rua respondeu:

- Só Jesus Salva.

Continuamos andando e, então, o mundo ao nosso redor começou a mudar um pouco. Muitas pessoas saíram dos seus trabalhos e residências para ver de perto os professores passarem. Muitos tiravam fotos. Muitos pais levavam seus filhos para a janela e mostravam o que estava acontecendo. O que será que eles contavam às crianças? Do alto da sua janela, uma senhorinha acenava dando seu apoio. Depois de andarmos bastante, olhei para trás e ela continuava lá, acenando. Incansável. 

O professor que comandava o caminhão de som, disse que a PM tinha estimado o número de manifestantes em 3 mil. Olhamos para trás e a rua estava tomada pelos professores. Ouvimos alguém dizer que o terceiro caminhão de som ainda estava na Paulista. No meio da rua, avistamos muitos outros estudantes. Um deles carregava uma faixa que dizia: “Somos alunxs, mas 45 em uma sala não dá”.

45.

Já estávamos próximos à avenida 23 de maio. Enquanto caminhávamos pela ponte que passa sobre a avenida, alguém pediu para um grupo a nossa frente parar, pois queria tirar uma foto. Esse grupo carregava um caixão com um cartaz em cima: “Aqui jaz a educação”. Eu já tinha visto esse caixão antes, mas não consegui fotografá-lo, então corri para aproveitar essa oportunidade. Tirei a foto e um sentimento de luto muito forte me tomou – sentimento esse que revivo enquanto escrevo este texto. Eu chorei. Aquela imagem me fez lembrar que, naquele caixão, jaz muito mais que a educação. Ali jaz o futuro de milhares e milhares de jovens do estado de SP. O meu futuro também poderia ter sido enterrado ali. Lembrei-me dos problemas que enfrentei enquanto era estudante, dentre eles o medo de uma vida sem futuro. Senti aquela mesma angústia de novo. A angústia de quem olha pra frente e enxerga apenas um futuro sem escolhas, sem grandes perspectivas, um futuro fadado ao fracasso. Tudo isso embrulhado em um papel bonito chamado “Meritocracia”. E a ausência desse futuro não é silenciosa, ao contrário, ela grita, grita na nossa cabeça todos os dias: você não merece um futuro melhor! Mas eu merecia. Os jovens que estavam nas ruas naquela sexta-feira merecem também, assim como aqueles que ficaram em casa. Felizmente, eu tive a sorte de ser uma das alunas “mais ricas” da escola e meu pai, apesar de não ganhar muito, teve dinheiro para me pagar um cursinho pré-vestibular. Tive a sorte de esbarrar com pessoas maravilhosas, estranhos desconhecidos – hoje, amigos - que se dispuseram a me apoiar e iam na minha casa aos domingos à tarde para me ajudar a estudar para o vestibular. Tudo isso foi sorte, não foi mérito. Pois merecer, todos merecem. Mas infelizmente vivemos em um país onde a educação, direito de todos garantido pela Constituição Brasileira, ainda é regida pela sorte: sorte de berço, sorte de família, sorte financeira. Não tive como não pensar nos jovens da bexiga: terão eles a mesma sorte que eu?

Continuamos andando. Já estava anoitecendo quando entramos na avenida 23 de março e minhas pernas começavam a dar os primeiros sinais de cansaço. Fazia frio, mas estávamos quentes. Esse foi o trecho mais intenso da nossa caminhada. Os prédios ao redor da avenida estavam todos iluminados e víamos muitas pessoas na janela, acenando para a manifestação. Os carros que passavam do outro lado da pista – apenas uma estava sendo tomada pelos professores – também demonstravam seu apoio. Muitos motoristas gritavam, outros buzinavam. Parecia que, pela primeira vez, a briga pela educação tornava-se um problema de todos – ou, ao menos, de muitos. Nesse momento, avistei novamente aquele professor solitário. Ele tinha subido na mureta entre as duas pistas e, incansável, continuava balançado sua bandeira. 

A nossa frente, estava o túnel Papa João Paulo II e, logo acima dele, uma ponte toda iluminada. Havia muita gente na ponte, eles tiravam fotos e acenavam. Entramos no túnel. Somente nessa hora, pudemos ver a dimensão da manifestação. Andamos túnel adentro. Quando já tínhamos passado da metade, o professor no caminhão de som a nossa frente disse que um portal de notícias tinha acabado de divulgar que éramos mais de 60 mil manifestantes nas ruas. Ele, então, começou a puxar mais um grito de guerra e todos professores cantaram juntos.

“Eu sou professor,
com muito orgulho,
com muito amor”

O túnel, naquele momento, ampliou ainda mais o grito que já era forte. Parecia que éramos 1 milhão. Tentei me unir a eles, mas não consegui. Mais uma vez eu chorei. Mais uma vez pensei que aqueles professores merecem ser tratados com mais respeito e dignidade.

Quase no final do túnel, que fica em uma subida, olhei para trás e vi que o espaço estava tomado pelos professores e era impossível ver onde tudo aquilo terminava. Era muita gente. Acho que nunca uma greve de professores foi tão grande e tão forte. Nossa caminhada ainda não tinha terminado. Saímos do túnel e continuamos andando. Igual a uma criança em dia de viagem, perguntei:

- Ainda falta muito pra chegar na Praça da República?

Ainda faltavam alguns bons metros. Só chegamos ao nosso destino final depois das 18h30, foram mais de 2 horas de caminhada. Estávamos todos muito cansados, mas felizes. Enquanto esperávamos todos os professores do nosso ônibus chegar, decidi matar uma vontade: comer milho cozido, vendido por um senhor ambulante que empurrou seu carrinho de milho da avenida Paulista até ali. Ele não era o único ambulante na manifestação. Em terra onde educação é para poucos, a falta de serviço digno é realidade de muitos.

Em frente à Secretaria de Educação, muitos policiais faziam vigilância. Havia também um acampamento de professores que estavam dormindo ali há alguns dias – e ali ficariam até a reunião da próxima quinta. 

Nosso ônibus chegou, entramos. Um professor pediu para o motorista ligar o som bem alto e foram todos cantando muito animados de SP até Hortolândia. Estavam esperançosos, acreditavam que, na sexta-feira da semana seguinte, fariam o mesmo caminho vitoriosos, que algumas reivindicações seriam atendidas pelo secretário de educação na reunião de quinta, que a greve teria fim.  Como sempre, eu dormi antes mesmo de termos saído da marginal Tietê.

Hoje, quinta-feira dia 23 de abril, esses professores receberam a notícia de que o governador Geraldo Alckmin não tem nenhuma proposta vantajosa para fazer nesse momento, apenas em julho, e que as reivindicações dos professores não podem ser atendidas em sua totalidade. A greve continua.

#ForçaProfessores

  
 

 

 

 

 





24 de março de 2015

Guia de viagem - Como se locomover em Paris




A organização da cidade de Paris é um pouco diferente das brasileiras. A cidade é dividida em 20 arrondissements, que são como pequenos distritos, cada um com sua própria subprefeitura. Os arrondissements são organizados em forma de caracol – olhe o desenho abaixo: tente traçar um percurso do número 1 ao 20, em sentido horário, e você verá que um caracol se formará. Dentro dos arrondissements, há a divisão por bairros, mas lá é muito difícil ouvir alguém falar o nome dos bairros, o pessoal usa mesmo o número dos arrondissements, só ouvi dizerem nome de bairros/regiões mais famosos como Saint-Germain ou Montmartre.



E como saber o arrondissement de cada local em Paris? Simples: é só olhar o CEP. O dois últimos números indicam o arrondissement, por exemplo, o endereço o Musée Picasso é  5 Rue de Thorigny, 75003 – ou seja, ele fica no 3º arrondissement. Essa informação ajuda muito você a se locomover na cidade e também a planejar o que fará em cada dia da viagem.

Outra informação importante é saber que Paris é uma cidade pequena, muito pequena mesmo. Dizem até que é possível cruzar a cidade andando, de norte a sul, em apenas 2h30. Se isso é verdade, não sei, mas lá as coisas realmente ficam muito perto uma das outras, por isso na maioria das vezes não compensa pegar metrô, você acaba andando mais dentro das estações do que andaria na rua.

Uma dica é: se dois pontos que você quer visitar ficam no mesmo arrondissement, isso significa que dá pra ir a pé. Se eles ficarem em arrondissements vizinhos também – mas talvez você tenha que andar um pouco mais.

Por isso, na hora de anotar nome e endereço dos lugares que você quer conhecer e visitar, anote o CEP, isso ajudará muito na hora de organizar a viagem, na hora de saber se aquele restaurante que te indicaram fica perto do museu onde você quer ir, por exemplo. É por isso que todos endereços que eu passei estavam com CEP :)

Para obter informações sobre os transportes de Paris, basta acessar o site da RATP. Também há um app para celular da companhia que ajuda você a escolher o melhor percurso e meio de transporte para chegar onde precisa. Lá também é possível encontrar informações sobre o Paris Visit e os valores dos tickets de transporte.

Para encontrar informações sobre os cartões dos meios de transporte da cidade, é preciso acessar o site do Navigo. Vou tentar explicar de maneira resumida as possibilidades de compra de ticket, cartão e Paris Visit. Todos os itens podem ser comprados em qualquer estação de metrô e trem e com eles pode-se usar os metrôs e ônibus da cidade.

a) Ticket: Você pode comprar o ticket unitário por 1,80€ ou a cartela com 10 tickets por 14,10€

b) Cartão: existem 2 opções e o preço varia de acorda com as zonas onde você vai circular. Para quem vai ficar apenas em Paris, basta comprar o cartão de zonas 1-2 (as outras zonas ficam fora da cidade de Paris e incluem as cidades vizinhas) Os turistas devem fazer sempre a versão Découverte do cartão, para isso é preciso pagar uma taxa de 5€ e levar uma foto ¾. 

Navigo Semaine: vale por uma semana contando de segunda a domingo. Isso significa que se você comprar seu cartão na quarta, poderá usá-lo até domingo, depois terá que pagar outra tarifa semanal (sim, esse cartão é meio burro, pois ele deveria durar 7 dias, mas não funciona assim). O valor do cartão zona 1-2 é 21,25€

Navigo Mois: vale por um mês contando do dia 1 ao dia 30/31. Virou o mês, tem que pagar de novo. O valor do cartão zona 1-2 é 70€

c) Paris Visit: é um cartão de transporte mais voltado para os turistas. Com ele, o uso do transporte é ilimitado e você escolhe a duração do cartão: 1, 2, 3 ou 5 dias. Esse cartão também dá descontos na entrada de alguns museus e pontos turísticos. O Paris Visit para 1 dia custa 12,30€. Eu acho essa a pior opção, é o tipo de coisa engana-turista. Como a cidade é pequena, é bem difícil gastar todo esse valor em tickets em 1 dia. Em geral, gasta-se entre 3 e 4 ticktes por dia no máximo. No verão, em muitos dias eu gastei apenas 2 ticktes - no inverno eu andei mais de metrô para fugir do frio e da chuva.

Para quem vai ficar poucos dias na cidade, acho que a opção mais econômica é comprar a cartela com 10 tickets - foi isso que eu fiz na minha primeira visita à Paris, quando fiquei 6 dias.

19 de fevereiro de 2015

Guia de viagem - O que e onde comer em Paris



Em Paris, os crepes estão por todos os lugares!

 Dessa vez, antes de ir viajar, eu li vários sites de viagens e também reli meu guia de Paris, anotei o endereço de vários restaurantes e outros lugares onde queria comer e... não fui em quase nenhum deles. Não sei se isso acontece com todo mundo, mas quando eu vou viajar e chego ao meu local de destino, fico um pouco perdida e enlouquecida, quero fazer tudo ao mesmo tempo, não consigo me programar ou fazer as coisas do jeito que eu tinha planejado. Como em Paris o tempo não estava bom e choveu muito, isso acabou dificultando ainda mais a turistagem gastronômica: em geral eu entrava no primeiro restaurante pra me proteger da chuva ou me esquentar do frio. Acabei não conseguindo comer nos lugares onde queria, mas mesmo assim tenho algumas dicas para dar.

Começando por um assunto importante: preço. Quanto se gasta pra comer em Paris? Eu gastei entre 10 e 25 euros pra comer. Embora as pessoas sempre digam que é caro comer em Paris, eu não acho tão caro assim, dá pra comer bem e gastar em torno de 12 euros em boa parte dos restaurantes. Se você comer lanches, dá pra gastar menos. Outra informação importante é sobre gorjeta: na França não se cobra 10% nem se paga gorjeta. É claro que se você quiser ser uma pessoa super gentil, você pode dar uma gorjeta, mas não se sinta obrigado a fazer isso.

Uma outra coisa que eu acho muito legal lá é que os restaurantes oferecem água de graça. É assim: se você não pedir nenhuma bebida, eles trazem uma garrafa ou jarra de água, se o garçom não trouxer, você pode pedir, mas peça por uma “carafe d’eau”, pois se pedir uma “bouteille d’eau”, eles vão trazer uma água pela qual você terá que pagar. Só um aviso: a água que eles dão gratuitamente é água de torneira, mas é normal beber água de torneira na França. Aliás, a água de torneira é bem melhor que as águas compradas, que costumam ter um gosto estranho. Eu só bebia água de torneira.

Uma boa região pra comer é próxima à estação de metrô Saint-Michel, que fica às margens do Sena. Atrás dessa estação, tem umas ruazinhas com muitos restaurantes, como a Rue de la Huchette, todos têm 3 formules (o nosso combo) com preços diferentes, a mais barata em geral custa 10 euros e a mais cara, 20 euros. Nessa região, a formule inclui a entrada, o prato principal e a sobremesa. Eu almocei vários dias nos restaurantes dessas ruas e pedi a formule de 10 euros, é claro que não é a meeeelhor comida do mundo, mas comi bem e bastante. Eu acho bem engraçado ter opção de comida barata nessas ruas, pois é uma região bem turística, fica próxima ao Jardin de Luxembourg e à Notre-Dame. Outra rua com muitas opções de restaurantes e lanchonetes é a Rue Mouffetard.

Ainda sobre as formules, a maioria dos restaurantes oferece essa opção na hora do almoço, durante a semana. Em geral há 3 opções de formule: entrada e prato principal, sobremesa e prato principal ou entrada, prato principal e sobremesa. Além disso, os restaurantes deixam um menu do lado de fora, então é possível ver os preços antes de entrar. As formules e os pratos do dia (que também são mais baratos) geralmente estão escritos em uma “lousa” na calçada.

Se você procura comida barata, também pode comer nos restaurantezinhos de comida turca. Eu comi um kebab que estava ótimo, perto do Canal St Martin, e paguei apenas 8 euros em um prato imenso com salada, batata frita, carne de cordeiro e couscous. Esses restaurantes não parecem, assim, muito limpos... mas uma dica importante é não se preocupar com higiene na Europa, porque lá não vamos encontrar a higiene brasileira em nenhum lugar. As pessoas não usam touca, luva e pegam na sua comida com a mesma mão que pegam no dinheiro e depois no pano de chão. Não sei se nos restaurantes super mega chiques também é assim, mas na maioria dos restaurantes normais, essa é a realidade. Então, gente, é comer e ser feliz.

Falando em comida turca, eu comi um sanduíche de falafel no restaurante super famoso e indicado chamado L'As du Fallafel. Esse lanche é muito bom, custa em torno de 8 euros e vale uma refeição, pois ele é imenso.

L'As du Fallafel
32-34 Rue des Rosiers,75004

Outra dica de lugar barato pra comer é o Flunch, um restaurante self-service que tem atrás do Centre Pompidou. Eu almocei lá um dia e gastei uns 7 euros.

Flunch
21 Rue Beaubourg, 75004

Além disso, pensando em gastar pouco, você também pode almoçar nos restaurantes universitários da cidade – qualquer pessoa pode comer lá, mesmo quem não é estudante. As refeições custam em torno de 5 euros e costumam ser muito boas. Eu não comi em nenhum deles, mas um amigo almoçou no RU da Sorbonne e gostou.

Pensando em fast food, tenho dois lugares pra indicar, um é o Pomme de pain, uma rede de lanches tipo o Subway, mas os lanches tem uma cara mais francesa. Eu paguei 8,80 euros em uma formule que incluía lanche, bebida e doce. Há vários restaurantes dessa rede espalhados pela cidade. Também comi no Mamma Roma, uma pizzaria fast food, e paguei 10,50 em uma formule que incluía uma entrada (de petiscos), um pedaço de pizza (que está ótimo!) e uma bebida.

Mamma Roma
55 Rue du Cherche-Midi, 75006

Um dia também jantei na Brasserie Les Trois Quartiers, perto da église de La Madeleine, foi lá que comi um prato francês muito muito bom: o magret de canard (peito de pato). Esse restaurante era bom e, por isso, um pouco mais caro, paguei em torno de 20 euros nesse prato.

Brasserie Les Trois Quartiers
21 Rue Duphot, 75001

Magret de carnard

Falando em prato francês, é bom aproveitar uma viagem para a França pra comer coisas que não comemos aqui no Brasil. Lá eu já comi carne de pato e de coelho, também é fácil achar restaurantes com carne de cordeiro. Também comi Tartiflette, que é um prato bem comum feito com batata, cebola e bacon gratinados com queijo reblochon – apenas não tem como ser ruim. Outra coisa que eu amo é o pain au chocolat. Embora o croissant seja mais famoso no Brasil, eu prefiro mais esse outro, é tipo um croissant com gotas de chocolate – lembrando que na França o croissant não tem recheio.

Paris também é repleta de pâtisseries com vitrines maravilhosas de doces. Eu comi alguns doces lá, gostei muito do éclair, porém os doces franceses são um pouco sem graças para nós, brasileiros. Sabe quando você vê aquele doce lindo-maravilhoso, dá uma mordida e acha meio aguado, falta uma dose de leite condensado, eu acho.

Também não dá pra vir embora sem comer macaron. É um doce pequeno e caro, fato, mas é muito bom. Dessa vez, experimentei os macarons de vários lugares diferentes, mas nada se compara ao macaron da Ladurée, é o melhor de todos! Só de pensar naquela maravilha desmanchando na minha boca, me dá vontade de ir pra lá agora. Diziam que os macarons da Pierre Hermé eram muito bons também, mas eu comprei um macaron lá e continuo achando a Ladurée a número 1. Aliás, a Ladurée também é um ótimo lugar para tomar chocolate quente.


Macarons e chocolate quente da Ladurée.

Pra terminar, deixo dois lugares que me indicaram, mas acabei não conseguindo ir em nenhum deles. Um francês me indicou o restaurante Gladines (há 4 deles em Paris) que serve comida basca (do sul da França), ele me disse que esse restaurante é barato e a comida é muito boa. Um outro amigo, agora brasileiro, me indicou a região de Cour St. Emilion, um lugar praticamente desconhecido pelos turistas (foi a indicação de um francês). São antigos armazéns, hoje reformados, onde se encontram vários restaurantes em um calçadão, lá também há um cinema com vários filmes europeus em cartaz.