15 de julho de 2009

Na casa do Drummond

Esses dias eu recebi a foto que tirei com uma das professoras da faculdade, na Colação de Grau dos cursos de Letras e Linguística, em dezembro do ano passado. O nome dela é Suzi Sperber e ela é a professora mais sensível que eu já tive (e olha que eu tive a sorte de ter muitas professoras sensíveis). Sabe aquelas pessoas que passam pela sua vida e fazem diferença? Ela é assim. Eu fiz duas disciplinas com ela, uma sobre poesia e uma sobre teatro.

Na colação, ela era paraninfa da turma de Letras e o discurso que fez foi, como todo mundo já previa, o mais bonito. Enquanto a maioria dos professores passa a vida tentando cortar as asas dos seus alunos e fazendo o possível, o impossível e o inimaginável para ferrá-los, ela terminou o discurso demonstrando seu desejo e objetivo em dar aulas: que seus alunos voassem alto.

Ninguém nunca cometeu a indelicadeza de perguntar sua idade, mas diante do fato de que ela se formou na graduação em 1965, ela já deve ter muuuuuitos anos... de puro conhecimento. Ela é um poço de conhecimento e cultura. Seu orientador de mestrado foi o Antonio Candido, um dos caras mais importantes na área de Crítica e Teoria Literária do país. Sabe aqueles estudiosos que escrevem os livros bases do seu curso, livros que todo mundo tem que ler? Aquelas pessoas importantes da ciência, que acabam virando nome de remédio, doença ou hospital? Então, ele está bem nesse nível. Ainda está vivo, firme e forte. Há uns 3 anos assisti uma palestra dele na faculdade. A palestra foi de graça - pressuponho que ele também ache que conhecimento não tem preço – mas suas palavras valeram muito, pois pudemos presenciar todo seu conhecimento, simpatia e bom humor. Ele é uma lenda viva e estava na minha lista de “pessoas que quero conhecer/ver antes de morrer”.

Na época em que tivemos aula de poesia com a Suzi, a sua filha estava muito doente, tinha pouco tempo de vida. Em uma das aulas, ela lia um poema do Alberto Caeiro. Era um poema que falava sobre a morte. Uma pessoa que estava prestes a morrer falava como a outra deveria agir quando chegasse a sua hora. No meio da leitura, ela parou e começou a chorar. E foi então que todo mundo entendeu pra que serve a poesia.

Também teve algo que aconteceu em uma outra aula. Ela falou uma coisa que deixou todo mundo completamente de boca aberta, sem ar, sem reação. Assim, sem mais nem menos, como você vira para sua mãe e fala “mãe, vou buscar pão e já volto”, ela falou “... porque no dia em que eu estava na casa do Drummond”. COMO ASSIM? Ela conhecia o Drummond? Ela ia na casa do Drummond?

Ninguém lembra o que ela falou antes disso. Nem depois. Pra ser sincera, acho que ninguém sequer lembra o tema daquela aula... Talvez vocês não saibam o que significa para um estudante de Letras ter aula com alguém que era amigo do Drummond. Bom... significa muito. Muuuuuito!

Aaah Estadão, isso é que conhecimento!

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