26 de dezembro de 2007

As coisas... as coisas são assim

Ele voltou pra casa com o buquê de tulipas na mão. Tinham custado uma fortuna, mas eram as flores preferidas dela. Naquele jantar, precisava levar algo que realmente a agradecesse. Depois de tantos meses separados, esperava ansiosamente pelo reencontro, seria inesquecível. E foi.

Depois de algum tempo de relacionamento, você adivinha os pensamentos do outro só pelo seu olhar, pelo levantar de sobrancelhas. Ela chegou antes, o esperava na mesa do canto, batendo os dedos ansiosamente no prato sobre a mesa. Ele se aproximou e sentiu falta do cumprimento acalorado, do abraço demorado. Nem sequer um beijo, recebeu apenas um "Oi, que saudades". Antes mesmo que perguntasse o que havia acontecido, ela disse que não havia necessidade de pedir a comida, pois precisava falar logo o que tinha pra falar.

E foi assim, de sopetão, que ela contou que estava tudo acabado. As coisas são assim. Num dia qualquer, sem nada de especial, ela conheceu outro, se apaixonou e descobriu que esse, sim, era seu amor de verdade. Pelo menos ela o havia poupado do clichê "No coração não se manda".

Ela foi embora. Ficaram ele e o buquê de tulipas. Ficaram por horas. O restaurante fechava quando ele se deu conta do que havia ocorrido. Tinha sido trocado pelo cara que ela conheceu no ponto de ônibus.

Sempre pensou que num momento como esse teria uma raiva e uma coragem tão grande que iria atrás do cara, o mataria ou ao menos o daria uma bela surra. Mas a única coisa que teve foi uma crise de choro repentina. Chorou. Chorou como não chorava desde que tinha uns 5 anos.

Trancado no quarto desde que chegou, só resolveu sair quando, já quase na hora do almoço, ouviu a mãe gritar da sala que tinha visita pra ele. Abriu a porta e ela veio correndo. Era Ana, sua amiga de tempos que estava de volta depois dos 4 anos de faculdade. Ela lhe deu um abraço demorado e pegou uma das tulipas caída no chão.

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