1 de maio de 2009

Eu sinto felicidade alheia


Já era pra eu ter publicado esse post há tempos. Mas eu estava meio sem tempo
meio atarefada
e com muita preguiça.

...

No dia em que minha professora de português da escola soube que eu passei na Unicamp, ela chorou.

Eu estudei a vida inteira em escola pública. Na porcaria-quase-inútil escola pública brasileira. Quando eu decidi que ia prestar vestibular, tive que me matar de estudar. Porque, pra quem estuda em escola pública, prestar vestibular de uma universidade pública não é um próximo passo certo. É uma decisão mesmo, porque você sabe que suas chances de passar são mínimas e para torná-las um pouco maiores (ou não tão pequenas) você precisa se esforçar muito. Eu passei 5 meses estudando. E só. Eu ia para escola de manhã, voltava, almoçava e ia para o cursinho. Chegava em casa às 19h, tomava banho, jantava e estudava até às 23h, pelo menos. No sábado, eu estudava. No domingo, eu estudava. Eu estudei em todos os feriados do segundo semestre de 2002, no dia do meu aniversário, na véspera de Natal e no Ano Novo eu estudei depois das 15h. Como resultado, ganhei uma doença que ninguém descobriu o que era e me deixou de cama por 5 dias. Na semana antes do vestibular. Eu fiquei tão ruim, que mal conseguia andar do quarto pra sala, era uma fraqueza enorme e a única coisa que eu fiz nesses dias foi ficar deitada no sofá. Lendo os livros da prova de literatura.

Mesmo tendo me esforçado e estudado muito, eu acreditava que não iria passar. Acho que metade das coisas que eu vi no cursinho, eu nunca tinha visto em toda a minha vida, nem fazia idéia do que era, tive que aprender do zero.

Não acreditei quando vi meu nome na lista de espera. E, depois da espera naquela terça-feira (era terça?), não acreditei quando vi meu nome na lista de matrícula da segunda chamada.

Em 2006 e 2007 eu dei aula na mesma escola pública que estudei, no período noturno. Dentre o grande números de imbecis-desinteressados-inúteis, tinha um aluno que também queria estudar na Unicamp. Ele era inteligente e dedicado e me doía vê-lo ali, no meio de tanta falta de possibilidades.

Uma semana depois do começo das aulas, enquanto eu esperava minha aula começar, eu o vi saindo de uma das salas do IEL. Eu tenho certeza que senti o mesmo que minha professora sentiu no dia em que ficou sabendo que eu passsei na Unicamp e chorou. Eu tenho certeza que pensei o mesmo que ela pensou e a fez chorar. Ainda bem que as pessoas ainda continuam quebrando aquele maldito círculo vicioso.

Eu dedico esse post a todos os bons professores que tive. Àqueles que me abriram os olhos. Àqueles que abriram mão do fim de semana para me dar aulas (de graça) nos dias quentes de novembro. Àqueles que me fizeram a acreditar em mim mesma. E as minhas amigas da escola que, assim como eu, penaram muito mas também conseguiram uma vaga na Unicamp (Kêy, boa sorte no mestrado. Layne, boa sorte no seu fim de curso). Que mais gente consiga romper o círculo.

2 comentários:

Lígia Francisco disse...

Só queria comentar que eu adorei esse post. Lembrei de quando eu fiz cursinho, de como foi difícil e de todos os excelentes professores que eu tive.

Daniel Lemos Cury disse...

belo texto... e parabens por essa força! eu sempre estudei em escola particular e isso me faz admirar mais ainda quem teve que estudar em escolas publicas ruins (poque algumas poucas são boas)... se eu estivesse no seu lugar nao sei se teria essa capacidade.
Beijos