9 de novembro de 2008

Política do pão e universidade

Estudar e trabalhar tem um lado péssimo: você fica praticamente exilada do mundo, sem saber o que está se passando por aí.

Eu saio de casa às 6h30, quando todo mundo ainda está dormindo (eu tenho, no máximo, a companhia sonolenta da minha mãe), e volto às 22h30, quando todo mundo já está dormindo, ou quase.

Praticamente não tenho tempo de ler jornal e revista, nem de ver os noticiários da TV. Consigo, no máximo, dar uma lida em algumas notícias na internet. Resultado: fico sabendo das notícias com atraso, sempre.

Semana passada, fiquei sabendo de uma notícia que me deu muita, muita raiva. Uma raiva tão grande que, se eu pudesse, eu cortava o Serra em mil pedaços e jogava no rio.

Durante a campanha do DCE (até que o DCE serve pra alguma coisa), eles falaram um pouco sobre o mais novo programa do nosso querido Governador. Ele acabou de criar a Univest (Universidade Virtual do Estado de São Paulo). Vai funcionar assim: a Unicamp, a Unesp e a USP vão oferecer cursos de licenciaturas pela internet, quase 6 mil vagas serão abertas ano que vem.

Resumindo: todo ano, mais de 6 mil professores serão formados à distância. Só me responde uma coisa, como é possível formar professores à distância? Como alguém pode se tornar professor sem, ele mesmo, ter contato com um?

O pior de tudo isso é que a população, alienada e facilmente enganada, ficou feliz com o programa incrível lançado pelo super bonzinho Serra, que proporcionará formação superior a tanta gente (inclusive achei vários sites e blogs elogiando a proposta). Ninguém sequer pensa no tipo de formação que será oferecida. Eu fiz um curso de licenciatura e sei que o contato diário com um professor é essencial para uma educação de qualidade, consistente.

Em um país como nosso, no qual a educação se deterioriza a cada dia, um projeto como esse só irá piorar ainda mais esse cenário. Se professores bem preparados já não conseguem manter um ensino de qualidade, dá medo imaginar o que vai acontecer com a educação quando esses 6 mil professores virtuais forem para a escola.

A desculpa do governo é que faltam professores nas escolas. Também faltam médicos nos hospitais públicos, mas ninguém jamais cogitará a possibilidade de uma faculdade de medicina à distância.

Claro, a medicina é uma profissão muito melhor que a pedagogia. Além disso, médicos mal preparados seriam um problema gravíssimo para o governo e sua imagem. Enquanto isso, professores com má formação fazem um grande favor a eles: formam pessoas cada vez menos conscientizadas, que se contentam com essa política de pão e circo de boca calada e sorriso no rosto.


Quer saber mais sobre o programa? Entra aqui http://www.ensinosuperior.sp.gov.br/portal.php/univesp

2 comentários:

Talita disse...

Pelo amor de Deus era só mais isso que nos faltava!

Sue Ellen disse...

Ao invés de remunerar melhor os profissionais que já estão na área, visando assim maior motivação para esses, ou ainda, melhorar a estrutura do sistema de ensino,não... apaga-se o fogo mais uma vez com medidas inúteis e ineficazes..
é foda!