13 de abril de 2013

Justiça pra quem?


Sempre que assuntos polêmicos tomam conta da sociedade brasileira, a repetição das ideias preconceituosas e autoritárias de imbecis como o Datena inunda as redes sociais. Quase sempre, não consigo me conter e não dar minha opinião sobre o assunto em meio a tantas baboseiras... e o assunto da vez é a redução da maioridade penal.

Uma questão é bem clara pra mim: não é a redução da maioridade penal que vai resolver a criminalidade entre os jovens. Se botar pessoas na prisão diminuísse a violência, o Brasil seria um dos países mais seguros do mundo pois, afinal, é um dos países com maior rede carcerária (Além disso, as prisões não foram feitas pra reeducar os criminosos muito menos para evitar casos de violência no futuro, mas essa é uma discussão complexa demais pra um post...). Também fico extremamente chocada com os crimes cometidos por jovens com menos de 18 anos, mas prendê-los não vai resolver a raiz do problema.

A única maneira de diminuir a criminalidade, especialmente entre os jovens, é oferecendo melhores condições de vida para TODA a população. Milhares de famílias brasileiras sobrevivem com um salário mínimo. Enquanto isso, conheço jovens que gastam esse dinheiro, todo mês, em bares e baladas. Tem gente que paga 2 salários mínimos em uma calça ou uma bolsa.

Além disso, é essencial que todos os jovens tenham acesso a uma educação com qualidade que realmente cumpra com sua função: formar cidadãos mais críticos, capazes de construir um futuro melhor para o país. Mas isso nunca vai acontecer, sabe por quê? Porque se todo mundo tiver uma formação/educação de qualidade, ninguém vai se sujeitar a fazer serviços mal remunerados, como ser faxineira, garçom, entregador de pizza, varredor de rua, segurança... e, consequentemente, a sociedade brasileira vai ruir, pois vivemos num país que sobrevive graças a desigualdade social.

É preciso que haja pobres e pessoas sem formação para sustentar a vida luxuosa e cheia de mordomias da parcela mais rica da população. Aliás, até mesmo nós – que não somos ricos – temos nossas pequenas mordomias do dia a dia e para que cada mordomia dessa nos seja oferecida, alguém está sendo explorado (ou você já parou pra pensar em quanto ganha o vendedor da loja onde você compra suas roupas ou o cara que fica a noite toda olhando seu carro no estacionamento?).

E não é fácil ser explorado, trabalhar 40 semanais e depois receber um salário que mal dá pra pagar as contas. Lembro quando dava aula em uma escola pública à noite, eu tinha muita dó dos alunos, eles trabalhavam o dia todo e à noite iam para escolar estudar, mas de tão cansados, não tinham ânimo pra nada. Isso não é justo, aos 16 anos eles deveriam estar apenas estudando. A vida desses jovens também está sendo roubada, eles ainda nem chegaram a fase adulta, mas já tem um futuro bem definido: assim como os pais, boa parte deles vai passar a vida fazendo serviços pouco valorizados com uma remuneração irrisória. E ninguém se preocupa com isso.

É claro que isso não é motivo para sair por aí matando os outros, mas a questão é que nem todas as pessoas conseguem se sujeitar à exploração a vida inteira. Algumas conseguem, e sofrem caladas, vendo a felicidade dos outros pela TV. Mas outras não aguentam a pressão, rebelam-se e decidem resolver suas vidas do seu jeito. É engraçado pensar que aqueles que roubam e aqueles que querem a redução da maioridade penal (ou punições mais severas) fundamentam seus atos/opiniões em um mesmo argumento: fazer justiça. Mas justiça pra quem?

A desigualdade social tem dois lados: em um deles, você ganha explorando o trabalho quase escravo dos mais necessitados, no outro lado, são eles que ganham a vida roubando você. Para a violência acabar, a exploração dos mais pobres também tem que acabar. O primeiro passo para viver num país sem violência, é estar disposto a fazer a sua parte na construção de uma sociedade mais justa. Agora quero ver quem está disposto a abrir mão das mordomias do dia a dia...

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