6 de abril de 2010

Mudança


Quando eu era criança, não dormia no escuro de jeito nenhum. Só dormia com o abajur aceso, no canto do quarto. Era um abajur rosa, bem grande, com uma boneca de porcelana sentada na base. Foi um presente da minha bisavó. Mas, um dia, o abajur caiu e quebrou. Como medida de emergência, minha mãe deixou a luz do corredor acesa, pra clarear o quarto, até comprar um abajur novo. O quarto não ficou tão claro, mas eu dormi mesmo assim. E nós nunca compramos um outro abajur.

Mas, um dia, a luz do corredor queimou. Já era tarde e não dava pra ir comprar outra. Como medida de emergência, meu pai resolveu deixar a luz do banheiro acesa, com a porta bem aberta. O quarto ficou meio escuro, mas eu dormi mesmo assim. E nós nunca mais deixamos a luz do corredor acesa.

Foi quando veio a reforma da casa. O quarto dos meus pais, que ficava no fim do corredor, mudou de lugar e foi parar perto do banheiro. Meu pai odeia dormir com claridade. A luz do banheiro continuou acesa durante a noite, mas a porta já não fica mais toda aberta, fica apenas uma fresta, por onde passa um feixe de luz. O meu quarto ficou um pouco mais escuro, mas eu dormi mesmo assim.

Então, teve um dia em que eu deitei e esqueci de apagar a luz do meu quarto – que fica do outro lado, longe da minha cama. Minha mãe passava pelo corredor e apagou a luz pra mim. Ela também puxou a porta, que quase fechou. Quando abri os olhos, vi que o quarto estava totalmente escuro. Mas eu dormi mesmo assim.

Um comentário:

Christopher Cade disse...

Tudo é relativo Aline. Para pessoa X a luz acesa pode significar escuridão. Para pessoa Y escuridão pode significar luz acesa!

Fico feliz que você tenha voltado ao Blog. Não dessista!

-Chris