9 de fevereiro de 2009

A pobreza é revoltante


Eu tinha decidido que a volta do blog (depois dessa pausa de quase um mês) seria com a apresentação de mais um escritor brasileiro. Mas aí, acabei mudando de idéia. Na verdade, não mudei muito. Eu ia escrever sobre a Patricia Melo e os livros dela falam sobre o tema desse post.


Esses dias eu percebi uma coisa que espanta a mim mesma. Eu percebi que, no fundo, eu tenho dó de criminosos. Digamos que eu me compadeça do destino desgraçado do qual, na maioria das vezes, eles não conseguem fugir.

Não, não tenho dó de serial killer, estuprador, torturador, gente que bota fogo no vizinho, joga a filha pela janela, mata a namorada, enfim, esses assassinos que matam por prazer (ou por loucura, sabe-se lá), psicopatas que se multiplicam a cada dia no Brasil. Também não tenho dó de filhinho de papai que opta pela criminalidade para fazer bonito para os amigos. Estou falando de gente que nasce na miséria e vira bandido.

Uma reportagem na TV me deixou chocada: um menino de 11 anos era preso por roubo, pela segunda vez. Era usuário de drogas pesadas e morava num barraco de 2 cômodos em uma favela. Ele ainda é uma criança, mas já é um criminoso. Já é odiado por muita gente, que acha que seu lugar é na cadeia. Eu não acho. Eu tenho dó. A sua vida ainda está no começo, mas seu futuro já foi determinado.

Eu acho que o que acontece é que eu me identifico mais com ele do que com os ricos que ficam por aí choramingando quando seu rolex que custa sei lá quanto é roubado. A criminalidade do país é, claro, uma coisa terrível, mas a desigualdade social é, para mim, mais pertubadora.

Uma outra reportagem, que vi ontem, chama atenção para o assunto. Na cidade de São Paulo, o luxo e a miséria vivem lado a lado: de um lado a favela de Paraisópolis, uma das maiores da cidade, do outro lado o bairro Morumbi, um dos bairros mais ricos de São Paulo. De um lado da rua, barracos que não valem R$10 mil reais. Do outro lado, casas de R$5 milhões e apartamentos com uma piscina por andar.

Quando um dos moradores do Morumbi é assaltado, com certeza, se diz injustiçado. Injustiça maior é a vida que levam as 80 mil pessoas que moram ao lado. Não estou dizendo que ir lá roubar aquilo que a pessoa comprou com o dinheiro do seu trabalho é correto. Mas ver a pobreza na rua debaixo e fechar os olhos também é cometer um ato de injustiça.

É fácil julgar a pessoas quando se tem tudo na vida, escola boa, carro do ano, roupa nova toda semana, viagem pro exterior, festa, lazer. Boa parte das pessoas não sabe o que é ser pobre, o que é passar fome, frio, não ter roupa para vestir, não poder ir para escola porque tem que ajudar os pais a sustentar os irmãos menores. Concordo que a pobreza não deve ser desculpa para uma vida cheia de crimes, nem todo pobre precisa ou tem que virar bandido.

Mas o que será que nós faríamos se estivéssemos do lado de lá da história? Ser pobre é ter uma vida repleta de fracassos e humilhações. Cheia de sonhos que nunca serão realizados. É ver as oportunidades passarem bem longe da sua porta. Se imagine morando numa barraco de madeira e vendo, do outro lado da rua, uma mansão com mais quartos que moradores. Deve doer. Deve dar ódio. A pobreza é revoltante. Ela é o alimento da criminalidade.


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