27 de abril de 2008

Um, dois, três

Ela sentia a tristeza de uma tarde de outono. Um daqueles dias cinzas, de ar pesado e muitas folhas mortas pelo caminho. Era assim que ela se sentia. Morta. Marrom e sem vida. E entendia porque há tantos suicídios nos países europeus. Como resistiriam a um ano repleto de dias em cinza e branco, como se o mundo ainda estivesse nos anos de cinema mudo e sem cor do começo do século passado?

Muda. Ela também não tinha voz. E mesmo que tivesse, sabia que de nada adiantaria gritar a sua raiva perante tanta mediocridade. De nada adiantaria. Ela não mudaria as coisas, que continuariam sendo como sempre foram. Não faria com que as pessoas deixassem de ser menos ... repugnantes.

Ela só queria fechar os olhos, contar até três e ver o mundo sumir. Não o mundo todo. Mas queria ver sumir as tantas coisas nojentas que vê todos os dias. Não agüentava mais relacionamentos baseados no interesse. Tanta falsidade e fingimento. Falta de respeito. Falta de educação. Falta. Ela sentia falta de coisas melhores e assim aprendia que era possível sentir falta daquilo que nunca se teve.

Da janela do quarto via a única árvore do quintal. Já não se viam mais árvores como antigamente. Também estavam em falta. Já quase não tinha folhas, mas... apertou o olho e viu algo diferente em meio a tanta falta de vida. Ainda havia ali uma folha, uma pobre coitada que teimava e não se rendia as leis da natureza. Teimava em não se deixar levar, em não cair. Ainda estava verde.

3 comentários:

Sue Ellen disse...

"Também temos saudades do que não existiu. E dói muito" (Drummond)

sobra tanta falta..já diria o teatro mágico. O outono me deprime!

se estiver afim, tem uma brincadeirinha lá no blog pra vc fazer!

bjos!

Anônimo disse...

Gostei do teu blog, escreve super bem!

Diegovj disse...

Triste, mas mto bonito.

Bjos!